A saga do juiz que reuniu 3.000 obras sobre Alagoas
Wagner Chevalier
MACEIÓ A união de duas paixões –o direito e a história– motivou o juiz e historiador alagoano Claudemiro Avelino de Souza a iniciar uma “via-crúcis” à procura de livros raros em sebos locais e de outros estados.
Era um projeto pessoal para resgatar a memória da Justiça em Alagoas, mas, durante as pesquisas, algumas “gratas surpresas” revelaram outro caminho.
O resultado é que hoje sua coleção sobre o universo alagoano ou com escritores do estado já conta com cerca de 3.000 obras, do total do seu acervo, de cerca de 12 mil livros.
Entre as preciosidades, está ‘Terra das Alagôas’, obra de 1922, de AD. Marroquim, editado em Roma pela Editori Maglione & Strini, quando se celebrava o 4° Centenário do Descobrimento do Brasil. O livro é uma das obras preferidas, segundo ele, pela densidade de informações e riqueza de imagens.
“Despertei para a formação de um acervo de obras produzidas por alagoanos e sobre Alagoas – de todo e qualquer gênero de literatura produzida desde o século 19. Tive gratas surpresas e sorte nessa caminhada, pois, fui refinando o olhar para obras raras e desconhecidas, e de autoria de historiadores, juristas, poetas e literatos de um modo geral.”
Dos escritores alagoanos que o juiz resgatou, está um exemplar de 1922 de “Judas Isgorogota”, pseudônimo do poeta e jornalista Agnelo Rodrigues de Melo (1898-1979). De 1922 a 1973, produziu pelo menos duas dúzias de livros de poesias, inclusive infantis, além da novela humorística João Camacho, editada em 1938 e da colaboração para jornais do estado e nacionais.
Também há espaço, nas estantes, para coletânea de 1959 de poetas alagoanos, como Jorge de Lima, Jayme de Altavilla, Goulart de Andrade, Sabino Romariz, Matheus de Albuquerque e Silvestre Péricles. E ainda para a História do Estado, na obra “Alagoas e a Revolução”, do ano de 1933.
Entre as obras raras do universo jurídico, está a segunda edição (1871) do ‘Vade Mecum Jurídico’, de autoria de José Próspero Jeová da Silva Caroatá, nascido em Penedo, Alagoas (a primeira edição é de 1866). “É uma obra que foi utilizada em todo o Brasil e, pela sua importância, foi reeditado por quase 50 anos”.
A coleção conta, ainda, com uma das primeiras obras de âmbito nacional sobre Processo Civil, de autoria de outro penedense Francisco Ignácio de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo, entre outras obras históricas.
Outa joia são os dois volumes do juiz Francisco Luiz Corrêa de Andrade, da antiga Alagoas do Sul (hoje município de Marechal Deodoro), que comentou o Código de Processo Criminal do Império do Brasil nos idos de 1880.
Além do universo jurídico, a coleção inclui obras como o “Tratado da Educação das Meninas”, obra de Fenelon, traduzida do francês pelo alagoano Silva Titara, e publicada em 1833; ‘O bispo do Pará e a missão à Roma’, que foi publicada em Lisboa, pelo Barão de Penedo, em 1887.
E, ainda, obras do gramático e poeta Alexandre Passos, considerado o “Pai da Filologia” alagoana, por trabalhos como o “Compêndio da Gramática Portuguesa” (1848); “Dicionário Gramatical Português” (1865); “Gramática Filosófica” (1871); e “Táboas Gramaticais das Desinências Latinas ou Compêndio Auxiliar para o Estudo Latim”(1869).
Ele guarda algumas das raridades em seu apartamento, na capital, Maceió. A maior parte, porém, preserva no sítio em Penedo, no Baixo São Francisco. Nesta cidade, em cuja comarca atua há cerca de 20 anos, ele construiu um ateliê para restaurar e garantir a conservação dos livros.
O plano, no futuro, é deixar o acervo disponível ao público na forma de uma biblioteca. O local ainda não foi definido. Entre as opções cogitadas, estão a Academia Alagoana de Letras e Artes de Magistrados, a Escola Superior da Magistratura e a Fundação Casa do Penedo.