Imperatriz do Brasil dá nome a distrito no Paraná que abrigou franceses
Donizete Oliveira
Maringá (PR) O distrito de Tereza Cristina tem 1.700 moradores e fica a 60 quilômetros de sua sede, o município de Cândido de Abreu, na região central do Paraná. O lugar já foi chamado de “terra da imperatriz”. A mulher do imperador dom Pedro 2º nunca esteve lá, mas o médico francês Jean-Maurice Faivre, amigo do casal real, a homenageou dando o nome da imperatriz à localidade.
Faivre conheceu o Brasil em 1826. Planejava criar uma comunidade sem exploração do homem pelo homem, onde todos pudessem cultivar a terra apenas para a subsistência.
Faivre se inspirou no socialismo utópico, que idealizava uma sociedade ideal. Leitor de Saint Simon, Proudhon e Fourier. Adepto do positivismo de Auguste Comte e admirador da Utopia, de Thomas More.
Em 17 de fevereiro de 1847, um navio partiu da Bélgica e aportou em Antonina, no Paraná. A bordo, além do comandante, estavam Faivre e 63 pessoas, entre adultos e crianças.
No lombo de mulas e burros, cortaram a Serra do Mar, chegando a Ponta Grossa. Percorreram em torno de 300 quilômetros até as margens do rio Ivaí, onde fundaram, naquele ano, a Colônia Agrícola Tereza Cristina.
Segundo o historiador Josué Corrêa Fernandes, autor de “Saga da Esperança”, livro que narra a trajetória de Faivre e a construção da Colônia Tereza Cristina, o médico desfez de todos seus bens e com ajuda da imperatriz Tereza Cristina concretizou seu intento.
No livro, ele cita que a colônia abrigava 25 famílias francesas em lotes de cerca de seis alqueires paulistas. Entre os municípios de Cândido de Abreu e Prudentópolis.
Cultivavam café, milho, baunilha, algodão, trigo, feijão, mandioca e cana-de-açúcar. Um modelo de agricultura precursor do cooperativismo paranaense. Apesar da madeira abundante, as casas eram de tijolos e telhas fabricados com barro das margens do rio Ivaí.
Os motivos de a colônia ter fracassado e chegado ao fim em 1892 são analisados na dissertação de pela Unespar (Universidade Estadual do Paraná) do historiador e professor Roberto Aparecido de Oliveira, 47.
Para ele, alguns fatores contribuíram. Primeiro, a morte de Faivre, em 1858, culminando com a decadência do Império, que previa lugares estratégicos de povoação.
“A política internacional mudou, e o Brasil seguiu uma nova tática de povoamento”, afirma. Uma estrada entre Tereza Cristina e Guarapuava foi abandonada, prejudicando o comércio com aquele município, que era uma das principais fontes de renda da colônia.
O professor cita também a Lei de Terras, instituída no Brasil, em 1850. As propriedades ganharam valor monetário, estimulando o latifúndio e a ação de grileiros. Mas ele afirma que ao menos o sonho de Faivre deve ser preservado.
“Carecemos de um projeto de preservação do local, com visitas guiadas de estudantes e mesmo de quem quer apreciar a natureza”.
Embaixo de alguma frondosa árvore nativa que existe por lá podem estar os restos mortais de Faivre, cujo corpo foi enterrado em lugar incerto na antiga colônia.