Artista do interior de SP recria rota de tropeiros com mapas feitos à mão
Lais Seguin
Piracicaba (SP) Com experiência na cartografia há mais de 30 anos, o artista plástico Francisco Stein, de Sorocaba (SP), decidiu criar à mão sete mapas ricos em detalhes para contar a história do tropeirismo no Brasil.
Ele aplica uma técnica autodidata que desenvolveu com o uso de materiais como nanquim sobre poliéster, tinta sem óleo e em pó e verniz fixador spray com proteção contra raios UV, umidade e intempéries.
No fim dos anos 80, enquanto trabalhava como projetista mecânico em uma empresa de São Paulo, resolveu começar a dar aulas de história (sua grande paixão, até então adormecida) em um colégio particular, como substituto.
“Não consigo imaginar uma aula de história sem mapas. Como no colégio não tinha, comecei a desenhar na lousa. Depois, passei a desenhar no papel vegetal e usar durante as aulas. Fiz isso por mais ou menos dois anos”, conta.
No entanto, Francisco precisou parar com as aulas quando surgiu uma oportunidade de emprego em outro estado. Ele viajava muito por causa do trabalho na área comercial, continuar com a paixão de estar na sala de aula se tornou inviável devido à falta de tempo.
Um dia, os horários exaustivos, imensas responsabilidades e a saudade da família, cobraram um preço. Desde 2014, se dedica integralmente à criação dos mapas feitos a mão.
Ele estuda e faz pesquisas desde o ano passado para que possa trazer vida às rotas traçadas pelos tropeiros, principalmente por Sorocaba, cidade em que mora e que foi protagonista da feira de muares, venda de mulas e burros trazidos dos pampas, ao sul do Brasil, para o transporte de ouro na recém descoberta Minas Gerais.
Para o projeto dar certo, o artista afirma que até precisou vender o carro para comprar os materiais necessários, devido à ausência de incentivos financeiros. Uma vaquinha online para arrecadar fundos e poder levar a produção até o final também foi realizada, com a meta de arrecadar R$82 mil. O valor se destina a utilização de livros consagrados do tema, documentos oficiais da época e entrevistas com diversos historiadores.
O artista plástico afirma que o maior desafio desta empreitada será conseguir inserir todos os elementos que ajudam a dar alto grau de didatismo aos observadores sobre o ciclo tropeiro. A ideia é que o conjunto de mapas, por si só, consiga explicar não apenas a geografia, mas os aspectos econômicos, culturais e políticos deste ciclo econômico do país.
“Pretendo sair do básico, das linhas retas que apenas mostram a trajetória de um lugar para outro. Quero mostrar o momento histórico, o nível de altitude, relevo, arroios, rios, passos, vegetação, tudo rico em detalhes”, explica.
Ao final da produção dos mapas, que pode levar até dois anos, o artista doará reproduções ampliadas do material a escolas e universidades públicas, prefeituras e demais entidades interessadas.
“Eu sempre quis fazer um mapa do caminho das tropas. Não existe nenhum mapa muito detalhado. A maioria é muito primário, impreciso ou fala muito superficialmente sobre o tropeirismo. Espero fazer um trabalho que reavive o interesse de jovens alunos, adultos e, quem sabe, nossas autoridades públicas”, diz.