Lauthenay Perdigão, o alagoano amigo de Dida com 10 mil itens sobre futebol

Josué Seixas

Maceió Futebol e o hábito de colecionar atraíram logo cedo a atenção de Lauthenay Perdigão. Ainda menino, tratava pedras e tampas de garrafa como se fossem bolas. Tinha grandes amigos nos rachas disputados na Praça dos Martírios, no centro de Maceió. Entre eles Edvaldo, mas ninguém o chamava assim. Era Dida, que veio a se tornar um dos maiores artilheiros do Flamengo e ídolo de Zico. Lau e Dida tiveram o começo da trajetória no futebol parecida.

Aos nove, pouco depois de se tornar amigo de Dida, Lau começou a colecionar revistas. Na mente do menino, a palavra colecionador ainda não havia se formado. Só foi uma coisa que ia lendo e guardando em casa. “A minha história de colecionador começa quando surgiu a Revista Ilustrada. Foi a primeira revista que comecei a colecionar”, lembra seu Lau, hoje com 86 anos.

E não parou mais. As camisas, flâmulas, fotografias, revistas e livros somam mais de dez mil itens, todos guardados no Museu Edvaldo Alves de Santa Rosa, em Maceió. Foi uma homenagem de Lauthenay a Dida.

Itens que o amigo Dida mandava para Lauthenay estão hoje reunidos em museu – Arquivo pessoal

Lau passou a jogar no time de aspirantes do CSA, assim como Dida, nos anos 50. O último, entretanto, teve mais sucesso: era artilheiro, craque, virou profissional e chamou atenção de times pelo Nordeste. Na época, ele dizia que só sairia de Alagoas se fosse para jogar no Flamengo. A proposta veio em 1954 e os amigos se separaram, mas mantiveram o contato.

 

Só que, conforme Dida era estrela no Rio de Janeiro, Lauthenay ganhava itens para guardar em seu acervo. Camisas, flâmulas, fotografias, todas enviadas pelo craque do Flamengo. Guardar as capas de revistas em que o amigo era protagonista também se tornou parte da rotina. Ao desistir do futebol ainda na juventude, Lauthenay utilizou as informações que tinha para contar histórias. Era bancário e jornalista.

 

O jornalismo, na verdade, era a atividade das horas livres, como os intervalos para almoço e antes e depois do expediente. Nesse tempo, fazia pesquisas sobre os times de Alagoas e jogadores importantes que passaram pelo Estado.

O Brasil foi campeão mundial de futebol em 1958 e Dida estava no elenco. Dali, vieram camisas assinadas pelos alagoanos da Seleção (Dida e Zagallo), além de outros craques como o adolescente Pelé.

Inauguração do museu com a presença de Zagallo (de gravata vermelha) e Dida (que puxa para cima a fita) – Arquivo Pessoal – 1993

No fim dos anos 60 e começo dos anos 70, Lauthenay fotografou toda a construção do Estádio Rei Pelé e mantém os registros até hoje. Esteve no jogo de estreia, em que o Santos de Pelé venceu a Seleção Alagoana.

“Hoje, me sinto recompensado quando vejo as coleções de revistas esportivas, o meu trabalho todo no museu. Eu acredito que vou deixar muitas coisas [para as próximas gerações], principalmente em termos de revista, livros e fotografias”, diz.

Dos muitos itens que estão guardados, destacam-se a camisa que Pelé utilizou no dia da inauguração do Estádio Rei Pelé, assinada pelo Rei. Estão também a faixa de Campeão do Mundo de 1958 de Dida, as fotografias dos elencos dos principais times de Alagoas.

Lauthenay Perdigão com parte dos 10 mil itens que reuniu ao longo da vida sobre futebol – Arquivo pessoal

O museu está localizado dentro do estádio Rei Pelé desde 1993. Antes da pandemia, sempre estava lá. Pela idade, precisava ser levado pelas filhas ou netas para o espaço.

Semanalmente, Lau era consultado por jornalistas de Alagoas ou curiosos do esporte, interessados em saber sobre as tantas histórias que ele tinha para compartilhar. “O que eu mais sinto falta hoje em dia é ir ao museu. Passei a maior parte da minha vida indo para lá, juntando todos esses itens”.