A vida de Teófanes Silveira, o palhaço Biribinha, patrimônio vivo de Alagoas
Josué Seixas
MACEIÓ Em 1958, Teófanes Silveira, baiano de Jequié, chorou em cima do palco. Tinha sete anos quando assustou-se com os olhos da multidão e o riso de outras crianças como ele na plateia. Naquele palco em Angra dos Reis, nascia o palhaço Biribinha.
Chamava-se assim porque era magrinho, pequenininho e era filho do Biriba. Tinha de ser Biribinha. Aos 68, Teófanes tem hoje residência fixa em Arapiraca, interior de Alagoas, mas roda o mundo inteiro desde que seu pai decidiu abandonar o curso de direito para viver do circo.
Foi ali que começou a geração dos Silveira na arte circense. Agora, a quinta geração da família está prestes a despontar.
“Meu pai foi meu grande professor. Ele me ensaiava, me dirigia. Antes de ser o Palhaço Biribinha, fiz dois espetáculos com ele. Então, meu pai chegou e disse: ‘Você acaba de testar os dois lados diferentes da mesma moeda. Quem consegue fazer rir e fazer chorar, tem que ser palhaço’, então me jogou no picadeiro e no palco, as minhas duas escolas”, conta o artista.
O pai de Teófanes, Nelson Silveira, aproveitou bastante a época do circo no Brasil. Começou na Bahia, depois foi para Minas Gerais, São Paulo, Minas Gerais de novo e Rio de Janeiro.
Lá, conta, a família passou por uma das situações mais tensas. Era a época da ditadura Militar e a repressão estava em alta. Nelson, que já tinha 26 obras de teatros registradas, achou melhor sair dali e voltar para o Nordeste. O pai morreu em 1977. Teófanes, então, tornou-se o diretor do circo e da família.
“Aquele dia foi muito triste. Eu estava maquiado de Biribinha, preparado para começar o espetáculo, tudo cheio, não cabia mais gente. Peguei o bilhete, li, coloquei no bolso de palhaço, chamei meu irmão e mandei anunciar o início do espetáculo. As coisas da vida são assim.”
Teófanes seguiu com o circo até 1986, quando resolveu baixar a lona e encerrar as atividades do Circo Mágico Nelson.
Depois de alguns anos, criou um novo circo. Estava casado, já era pai de quatro filhos, e vivia viajando entre os estados do Nordeste para se apresentar. As crianças, entretanto, não se adaptaram à vida das viagens. Teófanes desistiu do circo e resolveu morar definitivamente em Arapiraca.
“Tive que aprender a me adaptar e me tornei pioneiro em alguns pontos artísticos e culturais dessa cidade. Comecei a fazer teatro nas escolas, fazer festas de recreação, oficinas de palhaço, falava sobre circo-teatro nas escolas, trabalhei na Secretaria de Cultura. Já fui até Papai Noel no Natal. E com isso criei meus filhos.”
Só em 2006 que Teófanes voltou à rotina. Foi a Curitiba, para um festival, sem qualquer garantia de dinheiro. “Eram R$ 15 se a pessoa trabalhasse no dia. Se não, ficava com fome. Saí de lá com seis festivais contratados e não parei mais”. O espetáculo foi para a Europa e para o Canadá.
O Palhaço Biribinha foi considerado patrimônio vivo de Alagoas em 2010. Ele recebeu o Prêmio Governador do Estado para Cultura 2015, na categoria Circo – júri popular, com 58% dos votos. Teófanes, entretanto, não pensa em parar. Gosta é de passar o conhecimento.
“Nunca paguei por nada do que aprendi e não estou cansado. Tenho toda uma eternidade para descansar. Daqui a pouco chego aos 70 de idade e isso ainda é pouco para tanta coisa que eu fiz e que ainda tenho para fazer.”