Mestre Jaime preserva tradição dos mosaicos no interior do Ceará
Marcelo Oliveira
BARBALHA (CE) Aos 76 anos, Jaime Antonio Rodrigues trabalha desde 1960 com a arte manual de elaborar mosaicos, como são conhecidos os ladrilhos hidráulicos. A peça decorativa é elaborada a base de cimento e pode ser usada tanto para decorar calçadas como o interior de casas, igrejas e outras construções.
Estar na casa de mestre seu Jaime, em Barbalha, Ceará, é como entrar num túnel do tempo. É que nada mudou no modo de fabricar essas peças decorativas desde que ele entrou nesse ramo, ainda menino, aos 17, como empregado, deixando para trás o trabalho mais pesado na roça de sua região.
O empresário deixa que os visitantes não apenas encomendem metros de mosaicos como conheçam como são fabricados os ladrilhos. Assim, atrai novos clientes e preserva uma cultura muito rica do Cariri.
Tanto que seu Jaime, em 2017, foi um dos escolhidos para a lista dos Mestres da Cultura do Ceará, elaborada pela Secretaria de Estado da Cultura, título dado àqueles que produzem, conservam e transmitem a cultura popular.
A Fundação Casa Grande e o Sesc Ceará anunciaram este ano que pretendem incluir o espaço numa lista de museus orgânicos que preservam a cultura tradicional do Cariri. Mas Jaime desconversa, e diz que em sua casa-fábrica não há espaço para um museu.
O artesão, que não trabalha mais diretamente com o cimento por questões de saúde, mora na parte da frente do imóvel, cuja sombra é garantida por um pé de jasmim-laranja do qual o mestre muito se orgulha.
Ele mesmo guia os visitantes e mostra cada parte do processo de fabricação dos ladrilhos hidráulicos, cujos desenhos são obtidos por meio de moldes adquiridos entre os anos 60 e 80 de um metalúrgico francês cuja fábrica ficava em São Paulo.
“A última vez que recebi um molde foi em 1980, então não sei se o lugar ainda existe”, conta. Os moldes chegavam pelos Correios após serem escolhidos em um catálogo impresso. “Se eu quebro um molde desses, não tenho como fazer de novo”, diz o artesão, cujos ladrilhos enfeitam casas e calçadas de outros Estados do Nordeste e do Norte do país.
Os ladrilhos entraram em decadência nos anos 70, quando os azulejos e outros acabamentos de cerâmica chegaram com tudo no Nordeste e cativaram os consumidores.
O patrão de Jaime decidiu fechar a fábrica no centro de Barbalha em 1979 e o funcionário, então com 19 anos de experiência, ficou com a função de mostrar o imóvel e as peças sobressalentes para interessados e foi ganhar a vida como vendedor.
Em 1983 ele percebeu, contudo, que o negócio não havia morrido, pois passou a ser procurado por antigos clientes atrás, principalmente, de peças de reposição. Em 1985, Jaime ergueu o espaço atual e reabriu a fábrica, nos fundos de sua casa.
O processo de fabricação de um ladrilho leva de cinco a seis dias. Numa forma é colocado o molde, depois o pigmento colorido é distribuído conforme o desenho e o modelo. Em seguida vem a massa, uma mistura de diferentes tipos de cimentos e areias.
O material é prensado numa prensa da década de 60, que pertencia à antiga fábrica. O ladrilho sai praticamente pronto e colocado num calço, e da mesa do artesão vai para uma estante, onde descansa, processo que leva 24 horas. Depois, as peças ficam de oito a nove horas na água, para fixação da pintura.
O material só poderá ser transportado quatro dias depois, após passar de 80 a 90 horas secando na sombra. O metro quadrado dos ladrilhos para calçamento custam de R$ 32 a R$ 35 e os para decoração de interiores, de R$ 60 a R$ 75.