Flor vista com lupa e de R$ 30 mil: as joias de um orquidófilo do interior de SP
Helba Diniz
RIBEIRÃO PRETO (SP) Uma orquídea com flores de dois milímetros, que requer ajuda de lupa para vê-las, é a menor das paixões do bancário aposentado Luiz Carlos Setti, de Batatais, no interior paulista. Setti é um dos maiores orquidófilos do país, com quinze mil orquídeas de mais de mil espécies nacionais e de diversos países.
Aos de 76 anos, ele coleciona centenas de prêmios em 50 anos de dedicação a essas plantas. De acordo com a coordenadoria das Associações Orquidófilas do Brasil, que reúne 186 entidades desde 1969, ele é o primeiro no ranking nacional de expositores no quesito quantitativo.
As orquídeas estão distribuídas em uma estufa de 150 metros quadrados na casa dele, e em outras quatro no sítio, a 22 km da cidade. Nos dois lugares, criou uma espécie de laboratório, onde manipula substrato, veneno, adubo e monitora todas as plantas pessoalmente.
Há 12 anos ele passou a criar orquídeas por meio do cruzamento de espécies, dando a forma e a cor desejadas, com a ajuda de um laboratório especializado. Setti acabou de dar vida a uma nova espécie e se diverte contando: “Só vou ver a primeira flor quando estiver com 81 anos”.
Setti já esperou dez anos para conseguir a primeira orquídea em laboratório. Uma das que lhe deu mais orgulho é a Encyclia stella, que já floresceu pela terceira vez. O nome é uma homenagem à mãe.
O aposentado tem plantas raras e caras, vindas de várias partes do mundo. Segundo Setti, uma nacional, que apesar de não ser rara, custa entre R$ 20 a R$ 20 mil, a Cattleya walkeriana, a orquídea da moda entre os apreciadores pelo mundo, segundo ele. “A valorização dela é pela forma e a cor”.
Ela é encontrada nos estados de Minas, São Paulo e Goiás, e fartamente reproduzida no sítio dele. O ex-bancário destaca ainda as trazidas da Austrália, Madagascar, Peru, México, Tailândia e outros países da Ásia. Muitas ele foi buscar, outras adquiriu pelo mercado internacional.
De manhã, Setti cuida das orquídeas de casa. Depois do almoço, vai para o sítio, onde passa no mínimo seis horas. “Não me sinto aposentado, tudo isso é muito gratificante”, diz. A mulher, Luzia Mazaron Setti, dona de casa, também gosta de orquídeas, mas deixa os cuidados por conta do marido.
Setti tem a atividade como hobby, tanto que nas exposições que frequenta leva poucas plantas. Numa das últimas, em Ribeirão Preto, levou apenas 33 orquídeas e nenhuma estava à venda. “Eu aproveito esses encontros para trocar experiências e plantas raras com outros colecionadores”.
Para quem gosta de orquídeas, Setti dá algumas dicas. Nada de excesso de água nem sombra, oferecer luz abundante sem sol direto e o vaso ser proporcional ao tamanho da planta.