Feminicidas são retratados em exposição de artista gaúcha
Paula Sperb
PORTO ALEGRE A imagem mostra doze homens, lado a lado. Sem roupa, eles possuem revólveres no lugar do pênis. O número de figuras foi escolhido porque representa aqueles que matam doze mulheres por dia no Brasil, em média. A pintura, que tem 3,60m de largura e 1,80m de altura, foi inspirada em autores reais de feminicídio de suas companheiras.
A obra da artista gaúcha Graça Craidy faz parte da exposição “Feminicidas: o machismo que mata”, recém-inaugurada no Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo, no centro de Porto Alegre, com o objetivo de denunciar a violência contra as mulheres.
“Ao usar o termo feminicida, quero distinguir o assassino de mulher. Quero que esse termo entre para o vocabulário popular. Agora, as mulheres estão reagindo, saindo de relações abusivas, e aí o que acontece? Eles não aceitam e matam”, disse Craidy.
A artista escolheu desenhar armas de fogo no lugar dos órgãos sexuais porque entende que o revólver simboliza a dominação masculina sobre as mulheres vítimas de feminicídio. “Tudo é questão de não aceitar a igualdade das mulheres. ‘Não sou igual a ti, tu é menos do que eu’, eles pensam. São centenas de anos de cultura machista”, explica a artista.
Reportagem de Folha mostrou que apenas em janeiro deste ano 119 mulheres foram assassinadas e 60 foram vítimas de tentativa de feminicídio. Nem todos os estados contabilizam as tentativas, o que torna os casos subnotificados.
Outro motivo para incluir os revólveres nas pinturas é que a artista se diz preocupada com a facilitação do porte de arma de fogo. “Pressinto, infelizmente, que a facilitação do armamento vai aumentar ainda mais os feminicídios. A mulher é morta dentro de casa, se puder ter arma dentro de casa vai facilitar ainda mais”, explica.
A artista já retratou as vítimas dos feminicídios. Agora optou por mostrar os autores dos crimes. “Está na hora de a gente falar. Pensam que o homem que está matando é apenas de classe baixa e com um passado de crime, mas eles são aparentemente “normais”, de todas faixas etárias, classes sociais, níveis culturais. Quis fazer isso, inspirada em figuras reais, para alertar as mulheres”, diz.
A reportagem da Folha também mostra que 47% dos crimes de janeiro de 2019 ocorreram na casa da vítima. Nos casos estudados, 74% dos crimes cometidos com armas de fogo resultaram em morte —contra 59% no caso de agressões a facadas. A maioria dos autores era companheiro ou ex das mulheres.
Previsto no Código Penal desde 2015, o feminicídio é um tipo de homicídio, cometido “contra uma mulher por sua condição de sexo feminino”. “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência doméstica e familiar; menosprezo ou discriminação à condição de mulher”, diz a lei.