Gaúchos comemoram aprovação de emoji de chimarrão
Paula Sperb
PORTO ALEGRE Usar aplicativos de conversa para marcar uma “mateada” ou “roda de chimarrão” ficará mais divertido para os adoradores da bebida. No início do mês, foi anunciada a chegada do emoji de mate aos smartphones. A imagem deve estar disponível entre três e seis meses para os sistemas Android e Apple.
Preparado como infusão com a erva-mate (Ilex paraguariensis) em uma cuia e com uma “bomba” para sorver o líquido, o mate tem propriedades estimulantes, como o café. A bebida é consumida especialmente no estado do Rio Grande do Sul e em países como Argentina, Uruguai e Paraguai.
A criação do emoji foi comemorada pelos gaúchos, que publicaram comentários nas redes sociais como “vou postar em tudo e toda hora”, “chegou nossa hora de brilhar”, “ninguém me segura” e “esse momento é todo meu, com licença”. Não há uma data exata para que o símbolo da cuia seja incorporado, o que deve ocorrer ainda neste ano.
“Tudo o que ajuda representar o chimarrão é positivo”, opinou sobre o emoji Márcio Luiz Matos Luz , que há 15 anos trabalha no Ponto do Chimarrão, loja do Mercado Público de Porto Alegre que vende 90 tipos de erva para a bebida.
Embora os gaúchos estejam celebrando, a iniciativa partiu dos “hermanos” da Argentina, que apresentaram um projeto de quarenta páginas ao Unicode, consórcio formado por empresas como Adobe, Google e Apple e que desenvolve os emoticons para celulares.
“Pensei em qual emoji argentino poderia ser. ‘Choripan’ (pão com linguiça) que nós comemos? Milanesas com batata fritas? Cartas para jogar truco? Tinha que ser o mate, porque ele não é apenas argentino, é sul-americano”, explicou à Folha Florencia Coelho, jornalista do jornal La Nacion, de Buenos Aires, que liderou o projeto.
A oportunidade surgiu em meados de 2017 após um contato de Jennifer 8 Lee, integrante da ONG Emojination, que promove a diversidade nos caracteres. Além do mate, novos símbolos como cadeirantes, perna mecânica e cão-guia serão incluídos em 2019.
Florencia, então, mobilizou os designers Martín Zalucki e Emiliano Terranova. A eles se somaram Daniela Guini, Emiliano Panelli e Santiago Nasra. O grupo ganhou ajuda de voluntários do Hacks/Hackers Buenos Aires.
“Nós latinos somos muito amigáveis, companheiros, bem família. E, claro, muito ativos nas redes sociais. As pessoas se comunicam não apenas com texto, mas com emojis. Pensamos que as pessoas que tomam mate vão poder usar o emoji para lembrar de levar o mate, para combinar um encontro. É também um reconhecimento porque é o primeiro emoji sul-americano”, disse Florencia.
No Rio Grande do Sul, muitas vezes, marcar um encontro com amigos é sinônimo de “vamos tomar um chima”. O chimarrão é uma bebida compartilhada e, por isso, estimula a socialização.
“Ele tem essa magia da integração, tem essa capacidade de aproximar, unir, criar um bom ambiente e ajudar nas relações humanas”, opinou Pedro Schwengber, diretor do Instituto Escola do Chimarrão, ONG que divulga a bebida e ensina 36 maneiras diferentes de prepará-la.
Schwengber explica que o chimarrão gaúcho é um pouco diferente do argentino, uruguaio e paraguaio, tanto na erva, como na cuia. E mesmo entre cada um desses países há diferenças. Por isso, todas essas características locais seriam difíceis de serem contempladas em um emoji único.
“Quando decidimos qual desenho usar, nos inspiramos no modo como os índios guaranis usavam. O espírito do mate estava ali. Depois pensamos se devíamos ter feito outro modelo, mas era difícil decidir se devia parecer mais com o chimarrão, do Brasil, ou mais para tererê, do Paraguai. Mas a decisão foi por buscar como faziam os índios nativos”, explicou Florência.
Quando o emoji finalmente chegar aos smartphones, Florencia sugere que todos latino-americanos combinem uma “mateada internacional” usando o simpático símbolo.