Aos quase 90, roteirista de Zé do Caixão do interior paulista diz enfim viver de livro graças à internet
Régis Martins
RIBEIRÃO PRETO (SP) O escritor e roteirista Rubens Francisco Lucchetti diz que gostaria de ter nascido na Inglaterra vitoriana do século 19. Arredio às novidades tecnológicas, afirma que é um homem do passado.
“Sou um saudosista assumido”, afirma, às vésperas de completar 89 anos, no mês que vem, o homem que escreveu para diretores como José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e Ivan Cardoso (“As Sete Vampiras” e “O Segredo da Múmia”). Seu trabalho já foi assunto de uma reportagem da Folha e de perfil do jornal americano The New York Times, em 2014.
Curiosamente, sua vida mudou graças a uma invenção bem atual: a internet. Por causa das redes sociais, a obra do roteirista composta por livros de terror, mistério e crime foi redescoberta.
Luchetti, que vive em Jardinópolis, no interior paulista, há cerca de três décadas, conta que foi obrigado a criar um perfil porque era a única forma de conseguir vender seus livros que começaram a ser publicados por uma editora carioca a partir de 2014.
Graças a um acordo, as vendas das obras ficam a cargo do autor, mas ele diz que a margem de lucro é maior. “Foi algo muito vantajoso pra mim. Pela primeira vez, vivo dos livros que me orgulho de ter escrito”.
Nem sempre foi assim. Durante décadas, Lucchetti escreveu sob encomenda. Apesar de renegar essas obras, foi graças a esse passado prolífico que alunos da USP publicaram em sua homenagem
“O Homem dos Mil Livros”, também em 2014. Passados quatro anos, três angioplastias e um AVC, sua carreira renasceu.
“Há anos eu não publicava nada e de repente, tudo mudou. Minha vida virou uma ficção”, diz o autor, que, ainda assim, manteve os velhos hábitos.
As postagens nas redes, por exemplo, são ditadas ao filho Marco Aurélio que as escreve diariamente. “Computador é muito complicado pra mim”.
Apesar da saúde frágil, já prepara o lançamento de mais um livro da coleção “R.F. Lucchetti”, da editora Corvo. “O Dobre Sinistro” é a nona publicação de um total de 15 livros de terror e suspense.
“Cada livro dessa coleção é como um quebra-cabeça, porque estão interligados”, afirma o escritor, que, além dos títulos da coleção, já escreveu outras cinco obras de ficção para a editora.
“Ele não para, reviso os textos dele diariamente, além das postagens nas redes que chegam a ser três ou quatro por dia”, informa o filho Marco Aurélio.
O sucesso virtual de Luchetti levou seus posts a serem reunidos num livro que vai ser lançado no início do ano que vem pela editora Clepsidro, de São Paulo. “Desvendando R.F. Lucchetti – Memórias, Postagens e Fotobiografia” organizado pelo jornalista Rafael Spaca, reúne fotos e textos publicados em seu perfil desde 2014.