Em 3º livro sobre Chico Xavier, escritor detalha episódios da vida do médium

Marcelo Toledo

RIBEIRÃO PRETO  O médium mineiro Chico Xavier (1910-2002) poderia ter sido um fazendeiro. Até foi, mas por apenas alguns segundos. Também poderia usar relógios caros que ganhou, mas não ficava com nada e destinava tudo o que recebia para as ações sociais que marcaram sua trajetória.

Cinquenta anos após ter entrevistado pela primeira vez o médium, o jornalista e escritor Saulo Gomes, 90, lançou “Nosso Chico” (ed. Intervidas), livro de 296 páginas que revela ou detalha casos envolvendo Chico.

Mas, passados 16 anos da morte do médium e depois de tudo o que já se foi falado dele, ainda há grandes novidades sobre a vida do principal ícone do espiritismo no país? Para Saulo, sim.

“Fui guardando material e o livro tem a transcrição de certidões de cartório e documentos escritos por bispos católicos agradecendo a doação de uma área em Goiás, onde hoje está erguida uma obra social para auxiliar crianças pobres”, afirmou o escritor.

Esse episódio se passa em 1975. Uma rica proprietária rural goiana doou ao médium uma fazenda, como agradecimento. Ele, porém, ficou com a propriedade por apenas alguns segundos.

“Do jeito que recebeu a fazenda ele doou, imediatamente. No ato. A propriedade rural foi uma das coisas valiosas que ele ganhou e não utilizou. Ganhou relógio de ouro de presente, ternos de tecidos finos, mas ele não ficava com nada, sempre destinava a algo que pudesse resultar em atendimento a quem precisava”, disse.

Segundo ele, há documentos que eram desconhecidos de familiares de Chico ou espíritas históricos no livro, resultado de uma convivência de mais de 30 anos com o médium e que foi lançado nesta quarta-feira (7) num shopping de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

A obra também relata uma campanha feita para um hospital de Uberaba e seus desdobramentos, que incluíram o recebimento, pelo jornalista, de uma mensagem de Chico atribuída ao espírito Emmanuel, a quem o médium imputa a autoria de parte de suas obras.

Além de revisitar a primeira entrevista com o líder espírita mais popular do país, a obra completa uma trilogia que já teve “Pinga-Fogo” (2009) e “As Mães de Chico Xavier” (2011).

TRAJETÓRIA

Saulo tem 62 anos de atividades jornalísticas e, em 1968, conseguiu fazer com que o espírita rompesse um silêncio que já durava quase duas décadas e meia.

Desde 1944 Chico não concedia entrevistas, depois da repercussão da reportagem feita por Davi Nasser e Jean Manzon para a revista “O Cruzeiro”, que questionava a sua mediunidade e o mostrava ingênuo.

Em 1971, convenceu-o a ir ao “Pinga-Fogo”, programa de entrevistas da TV Tupi e que quase quatro décadas depois resultou no livro homônimo.

“Chico tinha o hábito de se referir a mim como ‘nosso Saulo’, pela amizade, e resolvi retribuir com ‘Nosso Chico’. Poucas vezes um repórter tem a chance de comemorar bodas de ouro de sua reportagem. Sendo com Chico, é muitíssimo especial”, afirmou, ao ser questionado sobre o título do livro.

Saulo disse que o segredo para manter acesa a chama literária aos 90 anos é ler muito, “o dia inteiro”. “Ler muito o dia inteiro, todo dia, sobre tudo quanto é assunto”, afirmou ele, que também é presidente da Abap (Associação Brasileira de Anistiados Políticos).