Juiz usa personagem ribeirinho para “traduzir juridiquês” no Pará

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Augusto Pinheiro
BELÉM – O juiz paraense Cláudio Rendeiro incorpora o personagem Epaminondas Gustavo, um ribeirinho de Cametá, cidade no nordeste do Pará, para explicar conceitos jurídicos à população.

Durante o jornal matutino diário da Rádio Cultura, ele entra com o “Escuta, Mano, o Meu Recado” e usa o linguajar e as expressões típicas dos ribeirinhos amazônicos para tratar de temas como violência doméstica patrimonial e autorização de viagem para menores.

“O Epaminondas transforma o juridiquês em algo mais informal. Qualquer pessoa, da mais à menos instruída, vai entender. É uma linguagem humorística simples”, conta Rendeiro, que criou o personagem em 2009, quando era juiz da vara de penas alternativas, para explicar esse tema à população em viagens pelo interior.

Epaminondas, personagem ribeirinho cirado pelo juiz paraense Cláudio Rendeiro. Crédito: Divulgação

Mas foi em 2013, quando gravou um áudio para o filho no Whatsapp, falando desse “tar de zap zap”, que o personagem viralizou e começou a ficar conhecido no Pará. Vários áudios seguiram e se espalharam pelos grupos do aplicativo – e o Epaminondas virou celebridade no estado. Hoje Rendeiro lota teatros com suas apresentações e conta com vários fãs-clubes.

“Quando vi que o personagem tinha essa aceitação, esse carisma, comecei a fazer áudios educativos, sobre educação no trânsito, uso do capacete, cinto de segurança. E algumas instituições, sobretudo da área de saúde, começaram a convidar o Epaminondas para fazer áudios para campanhas como do novembro azul, do outubro vermelho, de prevenção de câncer de próstata”, conta.

Além da participação na Rádio Cultura, Rendeiro realiza stand ups de cunho social, sem cobrar cachê, sobre temas como combate ao trabalho infantil e violência doméstica. E o cachê dos seus shows em teatros é destinado a diferentes instituições. Ele também criou um bloco de Carnaval, chamado Atrás dos Sem Aquele, que cada ano abraça uma causa social – da marchinha à renda convertida dos abadás. “É papel do personagem promover a cidadania. Ele foi criado por um juiz, e não teria sentido o humor pelo humor. É algo pedagógico”, afirma.

E de onde vem o vocabulário ribeirinho? “Para mim, foi muito fácil compor o personagem. Eu nasci em são Caetano de Odivelas (nordeste do Pará), uma cidade ribeirinha. Um tio, que consertava barcos, tinha umas expressões muito parecidas com as do Epaminondas. Meu pai foi outra fonte, um caboclo de São Caetano. E eu, entre juiz e promotor, trabalhei 16 anos no interior e fui coletando esse linguajar”.

No início deste mês o juiz lançou dois livros —um satírico, baseado nos áudios do Epaminondas, e um lírico, de poesias. “Assim mostrarei um lado que o público já conhece e outro novo”, afirma Rendeiro.