A fábrica centenária de foices no interior do Paraná

SEBASTIÃO NATALIO

PONTA GROSSA Há 112 anos, a fábrica de foices Pedro Werner resiste ao tempo e às novas tecnologias, mas teme ter que fechar as portas em Ponta Grossa, no interior do Paraná.

Administrada pela quinta geração da família Werner, a indústria mantém os mesmos processos de produção de desde o princípio, além de nunca ter mudado de local.

Algumas máquinas, como os marteletes, usados para dar forma às foices, e os fornos, que esquentam o ferro antes dele ser torneado, vieram da Alemanha, nas décadas de 30 e 40, e ainda estão em pleno funcionamento.

Segundo os proprietários, para fabricar as foices é utilizado aço considerado de boa qualidade, que passa por 16 processos, os mesmos desde o início da empresa, em 1906. Os ferreiros são especialistas nessa arte, e alguns estão na empresa há mais de 30 anos.

Acir queima o aço no forno pra dar forma à foice com o martelo – Fotos Sebastião Natalio/Folhapress

Pela manhã, eles moldam o aço usando os fornos que deixam os ferros em brasa e os marteletes, ainda acionados com os pés.

No período da tarde, são feitas as correções e a afiação, um processo importante para finalizar o produto. Entre os ferreiros mais experientes está o aposentado, Acir Batista Galdino, 62, na fábrica há 43 anos. “Eu aprendi tudo aqui, me aposentei e pedi pra continuar. Foi com meu trabalho aqui que criei meus filhos”, diz.

Por dia são feitas entre 60 a 70 foices de quatro modelos diferentes. O maior mercado consumidor é o interior paulista, onde as foices são utilizadas nas lavouras de cana-de-açúcar e em fazendas de pinus, seguido da região norte do Paraná, e de Mato Grosso do Sul e Pará.

Nas mãos do ferreiro, a foice é moldada ainda em brasa, no martelete trazido da Alemanha

EQUIPE MENOR

Entre as décadas de 40 e 60 chegou-se a produzir oito mil peças por mês, com um grupo de até 30 funcionários, hoje são apenas cinco. “Nós consideramos que este seja um dos entraves para o futuro da empresa, a falta de profissionais especializados”, diz Alfredo Werner Neto –formado em Direito, por insistência do pai, Waldemar Werner, mas que preferiu continuar dirigindo a empresa em parceria com a mãe, Lúcia Werner, que é quem toma as decisões. É ele o responsável pelos contatos comerciais.

“É difícil uma empresa passar de cem anos hoje em dia e manter o mesmo padrão de produção. Com tanta tecnologia disponível, é uma vitória, podemos dizer assim”, diz Lúcia.

De acordo com os proprietários, a empresa poderia adotar novas tecnologias para a produção, mas o objetivo é manter o artesanal, que é o que faz diferença no mercado. “Em termos de qualidade, por serem feitas à mão, elas se sobressaem sobre as concorrentes”, diz Alfredo.