Na era do Google Maps, Djavan resiste vendendo atlas no centro de Manaus
POR FABIO PONTES, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MANAUS
Em plena era de Google Maps e tecnologias para localização em tempo real, o paraense Lecinio Pereira, 60, resiste ao modelo tradicional no centro de Manaus.
Em uma bike, equilibra seu produto: ele vende tradicionais atlas, mapas usados por exemplo nas aulas de geografia.
Antes perambulando pelas ruas de Manaus com os mapas em uma bolsa, Djavan, como é mais conhecido, tem um ponto fixo em frente ao Teatro Amazonas, o principal cartão-postal da capital do Amazonas. Ele está neste mesmo ponto desde o ano 2000.
Perseverança é a palavra usada por Djavan para definir seu trabalho de vendedor de mapas ante a concorrência do mundo móvel dos celulares.
Mas o advento da tecnologia afetou seu negócio. Djavan conta que, desde o surgimento de tecnologias que permitem ao usuário rodar pelo mundo sem sair de casa (e sem se perder), as vendas caíram, em média, 80%. “Tem vez que fico de três dias sem vender um único mapa”, lamenta.
O apelido é uma referência ao “xará” cantor alagoano. Os cabelos encaracolados lhe renderam a alcunha. Perguntar por Lecinio no largo São Sebastião, região do entorno do Teatro Amazonas, certamente não se terá resposta.
O grande desafio dele é sair de casa e encontrar algum grupo de turistas gringos. Neste caso a venda de mapas é quase certa, compensando os dias de prejuízo.
Foi como aconteceu quando a reportagem tentava conversar com ele no início deste mês. Após passar o dia anterior sem nada vender, embolsou R$ 90 de um único cliente americano que comprou atlas da Amazônia Legal, do Brasil e um Mundi. Cada um custa R$ 30.
O cliente menos atento não perceberá que os mapas expostos por Djavan têm como suporte uma bicicleta cargueira verde, com ele já há quase dez anos.
Apesar de morar perto do local de trabalho, ele guarda sua “loja móvel” num cômodo localizado embaixo das escadarias do centenário teatro.
Djavan trabalha todos os dias, “de segunda a domingo”, como faz questão de dizer. Nascido no município de Monte Alegre, no Baixo Amazonas, no Pará, ele já rodou boa parte da Amazônia vendendo mapas. Desde 1980 fixou residência em Manaus.
Começou como vendedor de material didático ainda jovem, oferecendo livros de porta em porta. Os mapas ganhava como cortesia das editoras e os revendia. “Saia por aí vendendo mapas, e ao mesmo tempo os usava para não me perder”, brinca ele.
De uns tempos pra cá voltou a vender livros para complementar a renda com a queda na venda dos mapas. É de sua perseverança que ele tira a renda para sustentar a família. O paraense é pai de quatro filhos. A mais velha, de 18 anos, quer estudar medicina. “Quero que eles estudem, façam faculdade para não ter uma vida igual a minha”.