Amantes de trens miram locomotiva histórica para restauro no interior de SP

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POR MARCELO TOLEDO, EM CAMPINAS

Depois de colocar uma cinquentenária locomotiva a diesel de volta aos trilhos no interior de São Paulo, uma associação de preservação ferroviária projeta a restauração de mais trens e vagões no próximo ano e cobiça uma máquina histórica para “completar a coleção”.

De acordo com a ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), a meta é restaurar duas locomotivas a vapor –marias-fumaça–, uma litorina (sistema automotriz) e um vagão utilizado como restaurante, fabricado em 1951.

“Com esses novos carros à disposição, teremos condições de oferecer mais opções e comodidade aos turistas”, afirmou Helio Gazetta Filho, diretor-administrativo da regional Campinas da ABPF, que opera rota turística entre as estações Anhumas, em Campinas, e Jaguariúna, na cidade homônima.

Mas, apesar de a associação já ter projetos para o ano que vem, há uma locomotiva a diesel utilizada no passado pela CMEF (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro) que é desejada pelos amantes das ferrovias.

Das 30 unidades produzidas pela GM dessa série, de 1.200 HP, restam no máximo seis. Uma delas está em operação em uma concessionária.

“Estamos tentando conseguir, mas entre disponibilizar e ela chegar até nós há uma novela, que vai longe por envolver contrato de concessão, entre outros pontos. A gente fica numa agonia, com vontade de resolver, de fazer. Com ela, ficaríamos praticamente com a série inteira da Mogiana”, disse.

Embora tenha mais de 30 vagões e locomotivas aguardando restauro, o trabalho é lento, por causa das dificuldades dos restauradores para encontrar peças e, principalmente, devido à falta de recursos financeiros.

De acordo com Gazetta Filho, as restaurações só são possíveis graças ao fluxo de turistas que visitam a estrada de ferro Campinas-Jaguariúna, às parcerias feitas pela associação e aos sócios, que contribuem com uma anuidade de R$ 210. Os turistas pagam R$ 80 (meio percurso) e R$ 100 (percurso completo) –idosos acima de 60 anos pagam meia, e crianças até cinco anos viajam de graça se sentarem no colo.

O trabalho de restauro das máquinas previstas para 2018 será feito numa oficina mantida pela ABPF na estação ferroviária Carlos Gomes, inaugurada na década de 1920 em Campinas e que transportava passageiros e cargas da Mogiana.

Com a locomotiva que voltou aos trilhos neste mês, são nove as disponíveis para a rota turística no interior paulista, sendo três a diesel e seis marias-fumaça (a vapor). Além delas, há 18 carros de passageiros (vagões).

Locomotiva e vagões à espera de restauro na estação Carlos Gomes – Marcelo Toledo/Folhapress

O trajeto de 24 quilômetros entre Campinas e Jaguariúna é feito, em média, por 100 mil visitantes por ano.

No último mês, imóveis utilizados por ferroviários às margens dos trilhos e que também passaram por restauro foram reinaugurados.

BARÕES DO CAFÉ

A Mogiana foi uma ferrovia que teve como característica principal o recolhimento de café em fazendas dos antigos barões. Seu traçado era sinuoso, justamente com o objetivo de atender aos interesses dos proprietários rurais.

Ela foi responsável pelo desenvolvimento econômico de regiões como as de Campinas, Ribeirão Preto e Franca e pelo surgimento de municípios a partir de estações ferroviárias –um exemplo é Brodowski, terra do artista Candido Portinari.

Além de funcionários contratados para o restauro, a oficina da ABPF funciona com trabalho de voluntários, que cuidam de serviços como pintura, marcenaria e carpintaria.