A história do cavaleiro que viajou até o ‘fim do mundo’ e quer mais
POR MARCELO TOLEDO, EM BARRETOS
Após viajar até o “fim do mundo”, numa saga que durou três anos e meio viajando a cavalo, o brasileiro Filipe Masetti Leite se prepara para mais uma missão. Uma gelada missão.
Depois de ir de Calgary (Canadá) a Espírito Santo do Pinhal (SP), sua cidade, e dela até Ushuaia (Argentina), o cavaleiro agora quer percorrer um trajeto de 5.000 quilômetros entre Calgary (Canadá) e o Alasca.
Como nas viagens anteriores, ela será feita com a companhia de cavalos, seus fiéis escudeiros durante as duas viagens anteriores, numa aventura iniciada em 2012.
O objetivo com a terceira jornada é completar a viagem pelo continente americano, de norte a sul.
A primeira viagem durou dois anos e três meses, entre julho de 2012 e setembro de 2014, de Calgary a Espírito Santo do Pinhal, após passar por Barretos durante a Festa do Peão de Boiadeiro. No total, foram percorridos 16 mil quilômetros e dez países.
Já a segunda foi iniciada em abril do ano passado, em Pinhal, e concluída há três meses, em Ushuaia.
“Essa viagem era o sonho da minha vida. Meu pai é apaixonado por animais e me pôs em cima de uma sela antes de eu andar. Quando tinha meses de vida, já estava cavalgando com ele.”
Leite foi com a família para o Canadá quando tinha nove anos. Estudou jornalismo no país e ficou sozinho em Toronto após os pais regressarem ao Brasil.
“Tinha acabado a faculdade, estava quebrado, sem dinheiro. Busquei patrocínio, mas me chamavam de louco, diziam que eu ia morrer, que não dava para cavalgar assim em pleno século 21”, disse.
Uma produtora comprou a ideia e bancou os gastos de Leite, que utilizou dois cavalos doados por ranchos nos EUA.
De acordo com o cavaleiro, não houve um dia sequer em que não precisou de auxílio de desconhecidos na estrada, seja para alimentar os animais ou para encontrar comida para si próprio.
“Só tomava água depois deles [os animais], e nem sempre era fácil achar. Mas fui bem recebido em todos os lugares. Quando estava na Guatemala, uma família deu a única galinha que tinha para eu comer. Na segunda viagem, peguei um tempo muito seco na Argentina e, quando ganhei um litro de água gelada, chorava de alívio com a água no rosto.”
Para o cavaleiro, a segunda viagem foi mais difícil, por ter levado seis meses para ultrapassar a Patagônia. Os ventos fortes e o frio, que chegou a 16ºC negativos, foram os principais obstáculos.
“Havia neve até o joelho dos cavalos. Fiquei 15 dias sem tomar banho até chegar na próxima cidade. Era muito difícil mentalmente. O que me ajudou foi a bondade das pessoas.”
Um veículo de apoio o acompanhou na empreitada. No Sul do Brasil, um amigo dirigiu. Já no Uruguai, um jovem o acompanhou por um mês. Na Argentina, por sua vez, foi preciso andar 150 quilômetros a cavalo até achar alguém disposto. Todos voluntários.
Um jovem surgiu e o acompanhou por seis meses até o “fim do mundo”.
Agora, a previsão é que conclua a viagem até o Alasca em um ano, a partir de 2019. De quatro a cinco meses, porém, ele deve ficar parado em algum ponto de apoio, devido ao inverno rigoroso.
ANIMAIS
Questionado sobre críticas que recebeu ao chegar ao país sobre suposto abuso dos animais durante as viagens –por causa das longas distâncias percorridas–, Leite afirmou que quem fala isso não sabe o tanto que ele respeita os cavalos.
“Ouvi muitas besteiras quando cheguei ao país vindo do Canadá. Literalmente, é muito fácil ver o amor que tenho pelos animais. Quando você passa 24 horas por dia com um animal, você só pode respeitá-lo. Eu vivo com animais. Não é que tenho animal, eu vivo por eles.”
Os cavalos usados nas viagens até aqui foram aposentados por Leite, que disse gastar mensalmente R$ 700 para cuidar da alimentação e saúde deles.
As aventuras do cavaleiro foram reunidas no livro “Cavaleiro das Américas” (Harper Collins Brasil, 328 págs.), lançado em agosto.
Além de histórias sobre a viagem, a obra tem oito páginas de fotos coloridas dos cenários da epopeia.