‘Caçadores de ametistas’ trocam lavoura por mina na Bahia
ENVIADO ESPECIAL A REMANSO (BA) E SENTO SÉ (BA)
A jornada de Douglas Henrique, 23, e Luís da Cruz de Souza, 48, começa na zona rural de Remanso, cidade do norte na Bahia nas margens do Rio São Francisco. Lá, eles deixam para trás família e o trabalho nas lavouras de cebola e preparam-se para ir em busca de riqueza com pás e picaretas nas mãos.Douglas e Luís fazem parte de um contingente que chega a 12 mil pessoas que, desde maio, aglomeram-se em acampamentos na Serra da Quixaba, na cidade de Sento Sé, em busca de pedras de ametistas.
A mina foi descoberta por acaso por um lavrador da região, que percorria a serra da Quixaba para caçar tatus. Entrou num buraco atrás de um dos bichos e encontrou as ametistas. Desde então, o garimpo atraiu cerca de 12 mil homens em busca das pedras, que podem chegar a R$ 3 mil o quilo.A notícia da mina correu a região. Sem nenhuma experiência prévia com garimpo, Douglas e Luís resolveram tentar a sorte. Compraram ferramentas, uma barraca de camping e seguiram de moto até a mina.
A viagem de cerca de 130 km chega a durar quase quatro horas. São cerca de 80 km em estradas sem asfalto, além de uma travessia de uma hora de balsa para cruzar o lago de Sobradinho, no trecho do rio São Francisco que separa Remanso e Sento Sé.
Na primeira jornada, passaram um mês na mina e conseguiram poucas pedras. Mesmo assim, resolveram retornar para mais uma tentativa. Desta vez, com equipamentos mais modernos para cavar poços que chegam a 12 metros de profundidade.
“Não tinha como não voltar A natureza é perfeita, olha só para isso aqui”, disse Luís, com uma pedra de ametista nas mãos –a única que ele guardou para provar para a família e os amigos que valia à pena repetir a viagem e voltar ao garimpo.
As outras pedras que conseguiu, ele vendeu para atravessadores que revendem para indianos e chineses tomaram as ruas de Sento Sé desde a descoberta da mina. O comércio das pedras é feito de forma improvisada, nos bancos de praça da cidade.
O trabalho de Luís, Douglas e dos outros milhares de garimpeiros, contudo, está sendo feito de forma ilegal. Desde junho, a Agência Nacional de Mineração interditou a mina, mas se mostrou incapaz de fazer cumprir sua própria determinação –o órgão tem apenas 11 fiscais que atuam em todo o território baiano.
A decisão foi tomada diante dos riscos: “O garimpo cresceu de forma desordenada. A maioria se arrisca sem cumprir requisitos mínimos de segurança”, diz Cláudio Cruz Lima, chefe de fiscalização do órgão na Bahia.Três acidentes já aconteceram na mina. O último deles foi neste domingo (20), quando uma explosão deixou um homem morto e um gravemente ferido.
Mesmo sabendo dos riscos, Douglas e Luís dizem que não veem melhor opção. As ametistas, dizem, são a melhor alternativa diante da estiagem de cinco anos que fez despencar a produção de cebolas na região.
“A gente deixa nossas famílias em casa para enfrentar sol, poeira e todo tipo de perigo. Mas não tem outro jeito, temos que ir à luta”, diz Luís, guardando no bolso a pedra de ametista que lhe restou.
Ele e Douglas sobem desembarcam da balsa e sobem na moto. Ainda haveria muito chão a percorrer sertão adentro.