Antigo túnel ferroviário vira adega para espumantes no Paraná
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
O empresário Ari Portugal, 67, alerta logo de saída: “Não encostem nas paredes; nunca foram lavadas”. No teto do estreito túnel de 3,5 metros de largura, ele aponta para a marca da fuligem da Maria Fumaça, que passava por ali mais de cem anos atrás. Hoje, entre os trilhos, estão cerca de 10 mil garrafas de vinho.
O antigo túnel da ferrovia Curitiba-Paranaguá, inaugurada em 1885 e declarada um patrimônio histórico e uma façanha da engenharia, virou uma improvável cave de espumantes—espécie de adega usada para a maturação de bebidas.
Portugal, que é diretor aposentado de uma seguradora, foi o idealizador. É ele quem conduz as visitas ao empreendimento, tocado em conjunto por ele, o filho Rafaelle e a mulher Rosi, professora de cálculo na PUC e chef de cozinha na cave, aos finais de semana.
O empresário tinha o sonho de construir uma pousada na região, no início da Serra do Mar, em Piraquara (região metropolitana de Curitiba). Em 2000, arrematou num leilão da Rede Ferroviária Federal a antiga estação Roça Nova, vizinha a uma chácara de sua propriedade, uma litorina sucateada e… o túnel.
A passagem fora desativada na década de 1960, depois da chegada de locomotivas maiores que já não cabiam no túnel, cavado no maciço da serra.
A ideia de Portugal era investir em turismo rural. Mas alguém deu a ideia e o empresário mandou testar, ao longo de dois anos, as condições do local para servir de cave. A baixa temperatura, que oscila apenas um grau ao longo do ano, e a ventilação natural do túnel, localizado no limiar da serra, demonstraram um potencial excepcional.
“O túnel tem todas as condições necessárias para a maturação de forma natural. Não precisa de climatização, nem de insuflação de ar. O ar vem gelado direto da serra”, conta Portugal. “O pessoal das vinícolas ficou extasiado.”
O empresário fez uma parceria com a Cave Geisse, vinícola de Pinto Bandeira (RS). Os espumantes são produzidos no Rio Grande do Sul e seguem a Curitiba para o processo de maturação, que dura até dois anos. Atualmente, são vendidos apenas na cave ou entregues pelo correio, por R$ 93 a R$ 98 a garrafa, sob o rótulo “Tunnel”.
O empreendimento já foi visitado por pesquisadores do braço da Unesco para cultura e tradições do vinho, e apresentado como referência em dois congressos internacionais, na Argentina e na França.
Portugal ainda pretende construir o hotel, com chalés no formato das estações de trem. Mas só quando tiver dinheiro: “O meu acabou; gastei tudo no túnel”, brinca.
Por enquanto, é ele quem conduz as visitas ao final de semana. E aconselha os turistas a não esquecerem da blusa: a temperatura no túnel não passa de 17 °C. Seja inverno ou verão.
CAVE COLINAS DE PEDRA
Horário quarta a domingo, das 10h às 17h (almoço aos sábados, domingos e feriados)
Preço R$ 60 por pessoa (visita guiada, com degustação). Almoço aos sábados, domingos e feriados, a R$ 120 por pessoa. Espumantes a R$ 93 a R$ 98.
Reservas pelo site ou (41) 99667-5000