Colecionador, perito da PF comprou até quadro para laudo da Lava Jato

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ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA

É fácil identificar a sala do perito Marco Antonio de Geus, na sede da Polícia Federal em Curitiba: é só procurar por uma pintura em cima de um cavalete, logo atrás da mesa de trabalho.

Engenheiro mecânico por formação, Geus já foi dono de um antiquário e tem quase 150 obras de arte espalhadas por sua casa. Há pouco mais de um ano, passou a ser referência na análise das obras apreendidas na Operação Lava Jato, usadas para lavagem de dinheiro.

É ele quem assina o laudo que, pela primeira vez, identifica a autoria e a autenticidade de uma tela apreendida na Lava Jato –e que é considerado um marco na perícia brasileira.

O perito de 57 anos, nascido na cidade paranaense de Castro, frequenta leilões e galerias de arte por prazer.

Perito Marco Antonio de Geus com o quadro do pintor americano Willard Leroy Metcalf, em sua sala na sede da Polícia Federal em Curitiba – Foto: Estelita Hass Carazzai

No último ano, pelo menos uma de suas telas, porém, foi comprada por “ossos de ofício”: um quadro do pintor Sergio Telles. Geus desembolsou R$ 1.500 pela peça, usada para a confecção de um novo laudo sobre uma tela do artista, apreendida na Lava Jato. O quadro serve como referência para comparar as tintas e o estilo do pintor.

“Tem quadros que você vê que não tem o traço do artista e estão vendendo como se fosse. É abusar da credulidade das pessoas”, comenta.

Tela “Para Guignard”, do artista mineiro Fernando Lucchesi, apreendida pela Lava Jato – Foto: Reprodução

Colecionador experiente, até mesmo Geus já comprou gato por lebre. A tela atrás de seu computador tem a assinatura do pintor paranaense Theodoro De Bona –mas é falsa.

O perito descobriu a farsa logo que começou a testar as primeiras tecnologias para identificar a autoria dos quadros da Lava Jato. Levou a obra para uma experiência com luz ultravioleta, e conseguiu ler os detalhes encobertos de uma etiqueta, nos fundos da tela.

A pintura era do impressionista americano Willard Leroy Metcalf, talvez até mais preciosa que um De Bona. Mas, com a assinatura falsa à frente, o quadro perde o valor.

Geus e a equipe de peritos da PF estão finalizando outros 30 laudos sobre obras de arte apreendidas na Lava Jato. Os documentos criam uma nova metodologia de avaliação de obras de arte, que irá servir para tipificar com mais precisão o crime de lavagem de dinheiro.