A (quase) solitária viagem rumo a Venezuela a partir de Roraima

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POR MARCELO TOLEDO, EM PACARAIMA (RR)

Deserta. Nos pouco mais de 212 quilômetros entre a capital de Roraima, Boa Vista, e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, apenas um ou outro táxi circulava. E, às margens da pista, somente alguns índios.

Esse cenário ocorreu no extremo norte do país por praticamente um mês, após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fechar a fronteira entre os dois países em 12 de dezembro. Primeiro para veículos e pedestres, depois apenas para carros, caminhões e ônibus que cruzavam diariamente a fronteira entre Pacaraima e Santa Elena do Uairén.

Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas – Bruno Santos/ Folhapress

Além de fechar a fronteira, só “reaberta” no último dia 7, Maduro “desertificou” o trecho da BR-174 que liga a capital à Venezuela, por dois outros motivos.

O primeiro é que não há outras cidades populosas no trajeto, que corta em mais de 70 km a terra indígena São Marcos. O segundo é que Pacaraima não tem postos de combustíveis, já que a gasolina na Venezuela é muito barata, e o posto mais próximo fica em… Boa Vista.

Com isso, quem não tinha necessidade de usar a estrada deixou os veículos parados. Quem precisou, ou arriscou sofrer uma pane seca até chegar à capital ou comprou gasolina venezuelana que entrava no país por meio de motocicletas que usavam rotas ilegais para cruzar a fronteira, como a Folha mostrou.

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Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela – Bruno Santos/ Folhapress

A reportagem flagrou dois pontos de venda clandestinos de combustível em Pacaraima, um operando ao lado de uma mercearia e outro, numa borracharia. Nos dois locais, havia venezuelanos descarregando garrafões de água nos quais a gasolina é transportada.

O preço do litro chegava a R$ 6, valor superior à média de R$ 3,89 nos postos oficiais, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

“A Venezuela não tem comida, não tem emprego e o comércio vive enfrentando saques. É o único meio de conseguir algum dinheiro, com o fechamento da fronteira”, disse um vendedor venezuelano, que não quis se identificar.

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Em Santa Elena, onde ele compra o combustível, é possível encher o tanque de um carro com menos de R$ 3. Num posto imediatamente após a fronteira, brasileiros conseguem abastecer por R$ 1 o litro.

Não à toa, segundo a PF (Polícia Federal), gasolina é o produto mais apreendido na fronteira entre os dois países.