Prostituição de índias venezuelanas gera temor no extremo norte do Brasil

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POR MARCELO TOLEDO, EM BOA VISTA (RR)

Eles já foram vítimas de assaltos, estão vivendo nas ruas em condições de vulnerabilidade social e, nas últimas semanas, passaram a enfrentar a prostituição também.

Índios venezuelanos da etnia warao estão espalhados em cidades de Roraima após deixarem seu país devido à crise de abastecimento, num movimento imigratório que deve crescer nas próximas semanas.

Sem condições de se manterem, eles têm apelado à prostituição na região da Feira do Passarão e à mendicância nos semáforos dos principais cruzamentos da capital. É comum ver idosas indígenas com embalagens de suco recortadas para servir como uma espécie de cofre para os motoristas depositarem moedas e notas de real.

Nas ruas no entorno da feira, as garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa, dependendo do horário e da concorrência. Ao menos 150 prostitutas estrangeiras atuam na região, segundo levantamento feito pelo gabinete de crise montado pelo governo do Estado.

“Já confirmamos essa questão da prostituição de uma indígena. Se já houve um caso, a tendência é só aumentar. Contabilizamos 160 famílias de índios venezuelanos, mas deve ter mais, pois não param de chegar. Embora nossa ação inicial seja com os índios brasileiros, essa situação preocupa”, afirmou Ingarikó.

Os indígenas, oriundos do nordeste da Venezuela, já têm chegado a Roraima desde 2014, mas com maior intensidade neste ano. Há ao menos 160 famílias de índios venezuelanos na capital, de acordo com Dilson Ingarikó, 41, secretário do Índio de Roraima.

Em Pacaraima, que fica na fronteira entre os dois países, a Folha encontrou 80 indígenas dividindo um terreno ao lado do terminal rodoviário, num movimento imigratório que deve crescer nas próximas semanas, segundo membros do grupo. O local abriga resíduos da construção civil, lixo doméstico e mato.

“Nós já temos como característica não ficar muito tempo num lugar, fazíamos isso na Venezuela, mas não há mais para onde migrar lá. O governo não ajuda de forma alguma. Viemos para cá e vamos ficar aqui ao menos até fevereiro. Tenho 35 anos, nunca pensei em vir até a crise se agravar, mas lá não há o que comer, não há trabalho”, disse Jose Zapata, que espera a chegada de membros da família que ainda estão na Venezuela.

Garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa - Foto: Eduardo Knapp/Folhapress
Garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa – Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Já na capital Boa Vista, outros cerca de 40 têm passado as noites na área de embarque e desembarque da rodoviária internacional há mais de um mês, dos quais 15 são crianças. Grupos ligados a igrejas e a entidades têm distribuído alimentos e roupas aos indígenas.

“É muito triste ver um cenário desses e resolvemos ajudar. O foco principal não era esse, era atender usuários de drogas, mas a chegada dos venezuelanos tomou uma proporção muito grande e foi preciso agirmos”, disse o funcionário público Felipe Silveira, 19, integrante de um grupo de jovens da Igreja Católica que distribui sopa aos indígenas no local.

Já há relatos de venezuelanos que estão se deslocando também para cidades do Amazonas.