Estação ‘esconde’ oficina que recupera trens no interior de São Paulo
POR MARCELO TOLEDO, EM CAMPINAS
Quem olhar para a estação ferroviária Carlos Gomes, inaugurada na década de 1920 em Campinas (SP), talvez não perceba que ali existe mais que um antigo ponto de embarque e desembarque de passageiros da extinta Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
No local, funciona uma oficina administrada por amantes de trens que tem como objetivo fazer restaurações permanentes de locomotivas e vagões, usados pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) na rota turística Campinas-Jaguariúna.
Como a Folha publicou no início deste mês, a associação reuniu recursos próprios para bancar a revitalização de duas estações ferroviárias no interior de São Paulo.
O trabalho é lento. No mínimo é necessário o prazo de um ano para a recuperação de um vagão, mas não raro essa operação ultrapassa o dobro do tempo, devido às dificuldades para obter peças equivalentes ou deixar locomotivas e vagões de passageiros com aspecto de “novos” –ainda que, por “novo”, entenda-se algo produzido há um século.
E a fila é grande: há, segundo a associação, cerca de 30 aguardando restauração. Logo, a conta não fecha, pois o ritmo de preservação é inferior ao desejado pelos membros da ABPF, que afirmam ter dificuldade para contratar mais funcionários para o serviço e contam com o trabalho de voluntários, segundo Vanderlei Alves da Silva, gerente geral da ABPF Campinas.
A estação Carlos Gomes, onde fica a oficina, já tinha passado pelo mesmo processo há cerca de dez anos, quando Pedro Américo também foi recuperada. Uma última estação, Desembargador Furtado, ainda precisa de restauro, mas as obras, segundo Helio Gazetta Filho, diretor administrativo da regional Campinas da ABPF, dependem de uma rua em frente à estação ser pavimentada e da finalidade da estação.
“Ela tem muito movimento e gera muita poeira. Precisamos pensar, também, na destinação a ser dada à estação após a recuperação”, disse. Desembargador Furtado está desativada desde 1962, de acordo com a ABPF.
De acordo com o Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), as estações pertencem ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e estão cedidas por comodato de 99 anos à ABPF.
BARÕES
A Mogiana é uma ferrovia que se notabilizou por recolher café em fazendas dos antigos barões, e foi responsável pelo desenvolvimento econômico de regiões como as de Campinas, Ribeirão Preto e Franca.
Tinha um traçado sinuoso, justamente devido aos interesses de cafeicultores, que queriam trilhos atendendo diretamente as suas propriedades rurais.
A estação substituiu uma existente anteriormente e operou até 1968, quando foi transformada em ponto de parada. Só foi reativada na década de 80, quando passou a ser operada pela ABPF.
ECONOMIA
A linha Campinas-Jaguariúna fez parte de um projeto da Abottc (Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais) com o Sebrae, que fez um diagnóstico dos trens turísticos no país.
O projeto, concluído no primeiro semestre, resultou, segundo Geraldo Henrique da Costa, coordenador do projeto no Sebrae nacional, no aprimoramento de operações e em bons resultados para pequenos negócios no entorno das estações, além da criação de uma central nacional de compra de bilhetes pela internet.
Por ano, entre 3 milhões e 3,5 milhões de passageiros trafegam em trens turísticos ou culturais no país, conforme a associação das operadoras.