Em Curitiba, repórter mordido por pitbull durante protesto vira candidato
ESTELITA HASS CARAZZAI, de CURITIBA
O cartão de visitas do repórter-cinematográfico Luiz Carlos de Jesus, 38, tem a foto de um pitbull avançando sobre sua coxa direita.
“Foi ali que minha vida virou de cabeça para baixo”, diz Jesus.
O cinegrafista foi atacado pelo cachorro da tropa de choque da Polícia Militar enquanto cobria um protesto de professores estaduais do Paraná, em abril de 2015.
Na ocasião, bombas de gás e balas de borracha foram disparadas por duas horas contra milhares de pessoas, que protestavam contra uma mudança na previdência do Estado. Pelo menos 160 pessoas ficaram feridas.
Hoje, o repórter virou político: é candidato a vereador em Curitiba pelo PMDB, partido de oposição ao governador Beto Richa (PSDB).
“Até então, eu era meio apático em relação à política. Mas, depois de sentar e conversar muito com os professores, eles acabaram me incentivando.”
Jesus diz que, depois da mordida, passou a defender a causa da categoria. “Eram pessoas que estavam só trabalhando, como eu.” A filiação ocorreu no início do ano, perto da data limite para quem quer ser candidato.
Escolheu o PMDB porque “foi o primeiro a me procurar”. Outros partidos de oposição ao governador tucano, como o PT e o PSOL, também fizeram o convite para a filiação. No PMDB, quem tomou a iniciativa foi um assessor do deputado estadual Requião Filho, que é pré-candidato à Prefeitura de Curitiba.
Jesus já tem seu número de cédula: ele termina em 294, uma referência à data do protesto, em 29 de abril.
O governo do Paraná argumentou à época que parte dos manifestantes tentou romper a barreira policial, e que havia black blocs infiltrados no movimento. A Polícia Militar disse ter agido adotando procedimentos comuns a todas as polícias no mundo, baseados no uso progressivo da força.