A vida de ‘chapa’ dos venezuelanos que descarregam caminhões em Roraima
ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A PACARAIMA (RR)
A vida de cidade de fronteira não para, nem à noite. Em Pacaraima (RR), na divisa do Brasil com a Venezuela, é depois do anoitecer que dezenas de jovens –a maioria venezuelanos– tomam as ruas descarregando caminhões.
Os “chapas”, como são chamados, ganham entre R$ 30 e R$ 50 por descarga. Enquanto os caminhões não chegam, muitos dormem nas marquises à beira da rodovia, à espera do serviço.
“Ficamos esperando a oportunidade”, diz Johny Astrudillo, 34, que trabalha como chapa há um mês.
Ele é um dos milhares de venezuelanos que invadiram Pacaraima em busca de comida e itens de necessidade básica, em falta no país vizinho, há dois meses. A rua principal da cidade de 12 mil habitantes tornou-se um caos, repleta de lojas que vendem arroz, açúcar, farinha e óleo.
Algumas vendem até uma carreta por dia. À noite, o trânsito de caminhões substitui os carros. Só se ouve os apitos dos veículos em manobra –e o som dos sacos caindo sobre os ombros.
“Ontem mesmo vieram aqui uns oito rapazes, buscando serviço. Botei todos para trabalhar”, diz o venezuelano Wilmer Ramirez Villa, 38, que abriu um comércio de alimentos há sete meses.
Os venezuelanos são atraídos pelo pagamento em real, muito mais valorizado que o bolívar –e, claro, pela comida.
“É muito boa. Arroz, feijão, espaguete”, diz o venezuelano Pablo Garcia, 33, que aproveita o serviço como chapa para levar mantimentos para a família, do outro lado da fronteira.
Os R$ 30 que ele recebe ao descarregar um caminhão equivalem ao que receberia em uma semana de trabalho na Venezuela. Por noite, chega a descarregar três.
Garcia trabalhava como padeiro na Venezuela. “Agora, não dá mais: lá não tem trigo”, diz. No Brasil, ele carrega quilos do alimento nas costas, todos os dias.