O veterinário gaúcho que criou o Museu do Porco; acervo tem 30 mil peças
PAULA SPERB
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A obsessão de Hiran Castagnino Kunert, 61, por porcos começou em 1975. Ele ganhou de uma tia uma escultura de uma porquinha. Nas décadas seguintes, colecionou milhares de miniaturas do animal até realizar o sonho de abrir o Museu do Suíno, segundo ele, o único do gênero no Brasil, em Cachoeira do Sul (a 160 km de Porto Alegre), no centro do Estado.
A cidade faz parte de uma região de colonização alemã, cuja cultura valoriza a carne suína na sua culinária, bem diferente do típico churrasco gaúcho com carne bovina.
O museu completou dez anos de funcionamento em 2015. De acordo com o próprio idealizador, só há outros dois museus no mundo que homenageia os porcos, na Alemanha e em Portugal.
A coleção, que fica no terreno da casa de Kunert, tem 30 mil itens de 102 países que vão de esculturas de porcos em materiais nobres como ouro, também selos, objetos de cozinha, discos, cartões postais, até um tapete de tricô em formato de Peppa Pig, a porquinha esperta que é personagem de uma animação infantil.
“Estamos há muitos anos tirando dinheiro do bolso, é um hobby. Um sonho”, diz Kunert. É o próprio quem conduz a visita guiada –a entrada no museu é gratuita e não há verba pública envolvida.
Veterinário e professor aposentado, ele conta que recebe ajuda de amigos, especialmente com a doação de peças para o museu. O museu surgiu, em boa parte, pelo incentivo dos alunos de veterinária da Unoesc (Universidade do Oeste de Santa Catarina), onde lecionou.
Os primeiros contatos de Kunert com porcos foram na infância, na fazenda da família em Cachoeira do Sul. Era no meio rural que o garoto de Porto Alegre passava as férias. O jovem tornou-se veterinário, sempre estudando suínos. Até seu mestrado foi sobre o bicho, com foco na reprodução suína.
O veterinário inclusive teve uma porquinha de estimação por 12 anos, a Xuxinha. Mas a família não quer mais nenhum suíno com vivo por perto. “A gente se apega muito. Ela morreu de velha”, conta.
DE IOGURTE A CREME DENTAL
Durante as visitas, Kunert usa a experiência de professor para explicar curiosidades de forma didática. Antes das informações, ele captura a atenção: “Ao longo do seu dia você vai se deparar com ao menos dez coisas produzidas a partir de suínos”. Ele enumera produtos que contêm derivados de suíno na composição como creme dental, palito de fósforo, iogurte, cápsulas de remédio.
Se por acaso existir um vegano – que não consome nada de origem animal – fumante, certamente ele se surpreenderá que o cigarro contém DNA de suínos. Entretanto, é bom lembrar que veganismo passa longe do museu, que tem uma área dedicada a informar sobre métodos e ferramentas de abate. Mesmo assim, o local nunca foi alvo de protestos.
“O filtro do cigarro tem hemácias do porco”, explica Kunert. Em outras palavras, ele quer dizer que o cigarro contém células do sangue de porco, usadas para minimizar o impacto do tabaco.
As visitas são registradas e algumas são publicadas no site do museu, onde é possível deixar recados e fazer uma assinatura virtual. “Após a explicação do Hiran mudei em muito minha ideia sobre o nobre animal e todos os seus benefícios para o ser humano”, comentou Sergio Breyer em 30 de agosto de 2015. No site, há registro de milhares de visitas.
‘NEM SUJO NEM FEDORENTO’
Um dos objetivos do museu é levar conhecimento às pessoas, inclusive para mudar a percepção de que os porcos são sujos.
“Existe muito preconceito com o suíno. Ele é tachado de sujo e fedorento. Se as pessoas conhecessem um pouco mais o animal mudariam seu conceito”, diz Kunert, que em suas visitas guiadas faz questão de ressaltar a inteligência do animal.
Mas não é porque adora suínos que Kunert deixa de comê-los, seja no churrasco ou na forma de bacon (abdome de porco defumado). “Não tenho nenhum remorso, é uma cadeia alimentar”.
O site do museu, com curiosidades do animal, mensagens de visitantes e receitas culinárias, está em www.museudosuino.org.