Campeã da dengue em SP não faz mais exames de sangue em casos suspeitos
POR MARCELO TOLEDO, DE RIBEIRÃO PRETO
Campeã de dengue em São Paulo neste ano, Ribeirão Preto, com 24 mil registros da doença, não faz exames de sangue para confirmação de casos suspeitos há mais de dois meses.
Boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde aponta que a cidade confirmou em média 326 casos diários da doença de 1º de janeiro a 15 de março. No total, 46.025 pessoas procuraram atendimento com sintomas da doença no município.
O diagnóstico é clínico, feito pelos médicos. Com isso, existe risco de confundir dengue com zika, outra doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, admite o secretário da Saúde da cidade, Stenio Miranda.
O fato, no entanto, não é visto como um problema para a secretaria, que estima em R$ 20 milhões o “custo epidemia” deste ano –medicamentos, exames, contratações temporárias e infraestrutura em bairros– e alega que o mais importante é tratar os casos suspeitos.
“Uma vez confirmado laboratorialmente que há epidemia, fica a confirmação clínica. Não há necessidade do exame porque clinicamente você já tem condição de tratar os casos. Paramos de fazer os exames também porque os resultados demoram”, disse a médica Ana Alice de Castro e Silva, chefe da Vigilância Epidemiológica.
Rotineiramente são enviadas para o instituto Adolfo Lutz 20 amostras, para que a cidade monitore os sorotipos da doença em circulação.
Essa informação é importante para quem já teve a doença e para que a prefeitura defina políticas públicas de combate à dengue.
Nos últimos anos, o sorotipo mais frequente na cidade é o 1 –existem, ainda, o 2, o 3 e o 4. Na primeira vez que uma pessoa é contagiada por um, fica imune àquele tipo, mas não aos demais.
“São quatro vírus e, portanto, há chance de termos quatro epidemias diferentes”, disse Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses.
A cada infecção por um subtipo diferente, o risco de ter formas mais graves aumenta em 12 vezes, segundo ele.
Ribeirão Preto nunca teve epidemia de dengue tipo 2, o que gera preocupação, pois a população é suscetível ao vírus. E há registro desse vírus neste ano no município.
FOCO
Médica epidemiologista do hospital Emílio Ribas, Ana Freitas Ribeiro disse que, como as medidas de controle dos subtipos são idênticas, o mais importante é focar na eliminação de criadouros.
Para ela, também não é necessário fazer diagnóstico de 100% dos casos suspeitos numa epidemia. “Não vai gerar nenhum benefício [exames de sangue em todos os casos], a não ser para casos graves.”
De acordo com Ana Alice, da Vigilância, tratar os pacientes com suspeita de dengue é mais importante do que fazer exames de sangue.
Além da dengue, Ribeirão Preto tem 4.241 casos suspeitos de zika. A chikungunya é outra doença que tem gerado preocupação na cidade. Em 2015, foram dois casos importados e, neste ano, já são cinco, além de 116 suspeitos.