Estudo mostra viabilidade de gerar energia por meio de correnteza de rio
POR MARCELO TOLEDO, DE RIBEIRÃO PRETO
Uma nova tecnologia para produzir energia elétrica usando só as correntezas dos rios já se mostrou viável em dois trechos na região Norte do país.
A chamada energia hidrocinética está sendo estudada pela Eletronorte, a Unifei (Universidade Federal de Itajubá) e o governo britânico em rios do Pará e de Rondônia.
Por meio do sistema, não é preciso construir barragens de hidrelétricas nem gigantescos lagos de acumulação de água para a geração de energia.
A água passa por uma turbina, que fica parcialmente submersa no rio, gerando energia a partir da água que passa por ela, que é enviada para a rede ou redirecionada para abastecer locais que apresentem deficit energético.
Estudos preliminares, segundo os pesquisadores, apontam que não há risco para os peixes, pois a turbina gira em velocidade reduzida.
O primeiro rio estudado e aprovado por meio da parceria científica foi o Jamari, em Candeias do Jamari (RO), no trecho imediatamente após a hidrelétrica de Samuel, conforme revelado pela Folha.
O segundo rio a mostrar viabilidade foi o Curuá-Una, também após a hidrelétrica homônima (a 850 km de Belém).
De acordo com o pesquisador Julio César Silva de Souza, da Unifei, na parte paraense foram identificados trechos diferenciados e com velocidades superiores à média encontrada no rio de Rondônia.
Os dados obtidos na pesquisa de campo estão sendo trabalhados na modelagem computacional e, assim que for concluída, segundo Souza, será possível ter ideia da potência que essas turbinas poderão gerar e, consequentemente, do total de energia elétrica disponível.
A previsão é que o relatório final seja apresentado em abril.
O trabalho de campo consistiu em percorrer dezenas de vezes um trecho do rio a partir da água da jusante –lado oposto ao da nascente— para mapear a velocidade da correnteza do rio, a profundidade de cada local e, a partir disso, a possibilidade de geração de energia.
O potencial de energia elétrica adicional que poderá ser gerado é incerto, mas calcula-se que o ganho pode ser de até 30% se adotado em larga escala.
Entre pesquisadores há um consenso de que qualquer ganho será bem-vindo ao país. Há um ano, por exemplo, houve um apagão em 11 Estados e no Distrito Federal. No dia seguinte, o governo importou energia da Argentina.
VERBA EXTERNA
O governo britânico está investindo cerca de R$ 1 milhão no projeto. Segundo o cônsul-geral adjunto do Reino Unido Matt Woods, o projeto de hidrocinética despertou interesse por gerar energia de forma limpa.
A missão diplomática britânica no Brasil informou que o cronograma do estudo está seguindo o roteiro previsto. Em novembro, sete especialistas brasileiros da Eletronorte, da Unifei e da UFM (Universidade Federal do Maranhão) foram ao Reino Unido conhecer as tecnologias britânicas e práticas na área de geração de energia por correntes e marés.
Segundo o consulado britânico, ainda há espaço para aprofundar a cooperação técnica entre os dois países no setor.
A parceria com a Unifei surgiu porque a universidade inscreveu um projeto no Prosperity Fund, programa que tem uma verba de 1,3 bilhão de libras para os próximos cinco anos.
De acordo com o governo britânico, os projetos devem ser destinados a promover a reforma econômica e desenvolvimento necessário para o crescimento de países parceiros. Para o período 2016/17, as inscrições já foram encerradas.
OUTROS PROJETOS
Além do projeto com a Unifei e o governo britânico, a Eletronorte desenvolve um estudo semelhante próximo à hidrelétrica de Tucuruí (PA).
Há outros projetos sobre o tema no país, em Itaipu e no Ceará –onde analisa-se o aproveitamento de ondas do mar para produzir energia.