Cai 96% o número de haitianos ilegais que entram no Brasil pela fronteira do Acre

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ANNA RANGEL
DE SÃO PAULO

Todos os dias eles costumavam chegar às dezenas à cidade de Assis Brasil (AC), na fronteira com o Peru, pagando até R$ 15 mil aos chamados coiotes. Hoje, porém, são poucos os haitianos que ainda entram ilegalmente no Brasil pela fronteira com o Acre.

Os dados mais atualizados da Sejudh (Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Acre) mostram que caiu 96,5% o total de haitianos que chegaram ao Acre nessas condições: de 1.543, em dezembro de 2014, para 54 no mesmo mês de 2015.

Município com menos de 10 mil habitantes, Assis Brasil atingiu a marca de receber cem haitianos por dia. O abrigo de Brasileia, a 80 quilômetros dali, chegou a ter 2.200 pessoas.

Até o ano passado, o Acre era a principal rota para imigrantes ilegais, sobretudo haitianos.

A queda vertiginosa se dá meses após a ampliação da emissão de vistos para os imigrantes que vêm do Haiti ou de outros países, como Equador e Peru.

Entre 2015, foram concedidos pela embaixada brasileira em Porto Príncipe 17.045 vistos, contra 6.827 em 2014. Desde janeiro de 2012, quando um terremoto provocou a morte de cerca de 200 mil haitianos, foram concedidos 38.065 vistos.

Conforme a Folha mostrou em novembro, o governo brasileiro anunciou que concederá residência permanente a mais de 43 mil imigrantes haitianos que já estavam no Brasil.

“Em 2015, procuramos fazer uma readequação desse fluxo migratório pelo Acre para sufocar a rede de coiotes”, afirma o secretário nacional de Justiça e presidente do Comitê Nacional para os Refugiados, Beto Vasconcelos.

A Chácara Aliança, principal abrigo de estrangeiros em Rio Branco, no Acre, abrigava 20 pessoas em dezembro de 2015. No mesmo mês em 2014, o local, que tem capacidade para 300 pessoas, tinha cerca de 700.

Segundo o secretário de Justiça do Acre, Nilson Mourão, a rota deve ser desativada em questão de meses. “Esse fluxo está se tornando quase vegetativo, com pequenos grupos.”

A entrada de estrangeiros ilegais pelo Acre tinha uma rota bem complexa. Os imigrantes cruzavam a fronteira com a República Dominicana e, lá, pegavam um voo até Quito. Dali, entravam no Peru pela cidade de Iñapari e seguiam para Assis Brasil, já no Acre.

Depois de os haitianos chegarem ao Acre, eles iam geralmente de ônibus para outras cidades do Sul ou Sudeste do país. Alguns desses veículos, inclusive, eram fretados pelo próprio governo petista do Acre, o que gerou uma crise com São Paulo, comandado pelo tucano Geraldo Alckmin.

“Era uma rota construída e explorada por coiotes por valores de US$ 3.000 a US$ 5.000, com 15 dias de viagem. Hoje, com os mesmos US$ 3.000, a pessoa pega um voo e já vai direto para São Paulo ou Rio de forma segura”, diz Mourão.

SÃO PAULO

Para o coordenador de políticas para migrantes da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da capital paulista, Paulo Illes, o novo esquema ajudou também na acolhida dos imigrantes já em cidades de destino, como São Paulo.

Com o visto provisório em mãos, é possível fazer o CPF (Cadastro de Pessoa Física) e o RNE (Registro Nacional do Estrangeiro), abrir conta no banco e tirar a carteira de trabalho logo após a chegada.

A Missão Paz, que acolhe imigrantes na Igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério, auxilia os imigrantes nas questões burocráticas e disponibiliza abrigo.

De acordo com a advogada da missão Maristela Telles, a maioria dos haitianos pede atendimento, mas não precisa de hospedagem. “Eles têm um familiar, um amigo, e já conseguem ficar em algum lugar”, afirma.

Os dois afirmam que, ao contrário de anos atrás, a colônia haitiana em São Paulo está mais estabelecida e, por isso, há um sistema de suporte dos próprios imigrantes para acomodação e busca por emprego no país.