O caboclo que salvou tripulantes de um navio imperial
O episódio está registrado nas paredes do Museu Histórico de Regência, no centro do vilarejo, com textos, desenhos, fotos e uma miniatura do navio naufragado dentro de uma garrafa.
Em meio a uma forte tempestade, a embarcação chocou-se nos bancos de areia próximos à praia. O naufrágio, na época, foi atribuído a uma variação na bússola e erro de cálculo. Dos 142 homens a bordo, doze lançaram um barco de menor porte ao mar para pedir ajuda.
Moradores chegaram, então, à praia para prestar auxílio aos náufragos. É quando a memória de Regência cita o ato de coragem de caboclo Bernardo. Ele “atira-se ao mar bravio para levar ao navio o “cabo de espia” [espécie de corda]. Porém, por quatro vezes é jogado de volta à praia, e na sua insistência consegue chegar aos destroços do ‘Imperial Marinheiro'”, relata a documentação do museu.
Um pequeno barco é amarrado ao cabo para realizar o salvamento. A figura de caboclo Bernardo é ressaltada como protagonista, na narrativa de Regência. “O caboclo Bernardo em seu ato de bravura humanitária consegue, após cinco horas de luta, salvar 128 náufragos”.
O morador de Regência foi condecorado pela princesa Isabel em nome do imperador D. Pedro 2ª, com a medalha de 1º classe cunhada de ouro.
Lenda ou não, o farol foi instalado na vila em 1895. Em 2014, o governo do Espírito Santo entregou restaurada a cúpula do farol, na data do centenário da memória de caboclo Bernardo.
Itamar Góis Alves, 47, é cabocla como Bernardo, com avós da etnia dos krenac. Funcionária do museu, ela acompanha a visita da reportagem e faz questão de cantar uma das músicas que exalta os feitos de caboclo Bernardo compostas por outro personagem ilustre de Regência.
O museu traz roupas da festa de congado e peças usadas no cotidiano dos moradores. Entre elas estão as redes de pescar, o principal sustento de Regência.
Itamar suspira e olha para o chão antes de responder a pergunta da reportagem. “Pode ser que sim. É uma situação bem desagradável. Meu marido é pescador, eu sou daqui, cresci tomando banho de rio, lavando e areando panelas lá”, lamenta a cabocla. “Eu confesso que não tive ainda coragem de chegar perto do rio depois dessa lama”.