Índia da Sibéria canta e toca instrumento típico nos Jogos Mundiais; veja vídeo

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POR JULIANA COISSI, EM PALMAS (TO)

De blusa branca, calça preta e salto baixo, Saina Singer, 44, parecia tímida sentada no canto do corredor da escola municipal Anísio Teixeira, que serviu de alojamento para os estrangeiros nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que terminou em 31 de outubro, em Palmas (TO).

Saina é da etnia yakut, dos povos da Sibéria, e uma das representantes da Rússia no evento. Mas, ao ser abordada pela reportagem, ela fez questão de pedir para vestir suas roupas tradicionais dos povos siberianos.

Devidamente trajada, o silêncio que a presença de Sania até então trazia se converteu em atenção de todos os atletas e voluntários no refeitório da escola.

É que, além de responder perguntas da reportagem, ela pediu para cantar canções típicas dos povos siberianos. Em seguida, presenteou o pequeno público ao tocar o homus, um pequeno instrumento de sopro feito de metal dos povos siberianos. Enquanto sopra, faz sons guturais com a garganta.

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Saina é como prefere ser chamada, uma junção do começo e do fim de seu nome em russo, Savvinova Ekaterina. Ela é cantora e, além de músicas típicas, apresenta-se no Canadá e em outros países interpretando composições em outros estilos musicais, como o jazz.

VAQUINHA, CALOR E CARISMA

Sania está acostumada a representar praticamente sozinha seu grupo étnico. Venceu a distância da Rússia ao Brasil graças a uma vaquinha arrecadada com os amigos.

Não participou de nenhuma competição: a russa quis apenas mostrar os costumes dos yakut e de outras cinco etnias da Sibéria.

Esse esforço individual traz, no fundo, uma preocupação: a de que os costumes das etnias siberianas se percam com o tempo, sem apoio do poder público. “Falta prestígio para os nossos povos. Então eu faço esse trabalho de divulgação para que um dia sejamos prestigiados”, disse, em inglês.

A siberiana se disse feliz e parte de “uma só família no mundo” ao encontrar com pessoas de outras etnias e outros países em Palmas.

A única estranheza foi o calor de 30ºC em Palmas. “Meus amigos de lá estão me perguntando: Você está bem? Está sobrevivendo?”, brincava.

Os finlandeses também estranharam o calor. Da delegação de dez pessoas, sete participaram das competições de corrida e canoagem.

A pele branca e os olhos azuis da delegação daquele país destoam das demais. Únicos europeus nos Jogos Mundiais, eles pertencem ao povo sámi, que vive na Lapônia. A região compreende o norte dos países escandinavos (Finlândia, Suécia e Noruega) e da Rússia.

O neozelandês Wiremu Sarich, 40, foi, de longe, um dos mais carismáticos entre os atletas participantes dos Jogos Mundiais. Se não estava com o cabelo longo e cacheado preso a um coque, circulava na arena com um chapéu de palha com o topo furado para deixar a cabeleira para fora.

A cada flecha atirada, Sarich comemorava com caretas, língua para fora e gestos com pés e mãos da dança haka, que tornou o povo maori mundialmente conhecido. Nas competições de rúgbi, os “all black”, como é chamado o time da Nova Zelândia, um dos líderes no esporte, costuma fazer o ritual da haka, dos maori, no campo.

“Estamos sendo tratados aqui como rock star”, brincou Sarich, que é professor da língua e costume dos maori. Como outros estrangeiros, ele disse que se sentia em casa por poder ter contato com tantas etnias diferentes.

Sarich contou que se acostumou até aos atrasos na competição. Como ele, outros atletas contaram que muitas vezes eram chamados às pressas para a ir à arena, mas esperavam por duas, três horas e depois não competiam nem recebiam nenhuma explicação. “Mas tudo bem, é a ‘hora maori’ como dizemos, estamos acostumados”, brinca Sarich.

Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas reuniram 1.700 indígenas do Brasil e de 23 países.