Preconceito é o maior desafio de índios do Brasil e do mundo

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JULIANA COISSI, ENVIADA ESPECIAL A PALMAS (TO)

Engenheiro têxtil em Oaxaca, no México, Fidel Salazar Rosales se incomoda com o modo como seu povo é visto. “Estigmatiza-se o índio, que ele é sujo, preguiçoso e desorganizado”, diz ele, da etnia zapoteca.

Mais do que demarcação de terras, o preconceito ainda é o maior obstáculo enfrentado por etnias do Brasil e do mundo, segundo os próprios índios ouvidos pelo blog.

A discriminação sofrida em atividades do cotidiano, como a ida à escola ou ao mercado, foi citada pela maioria dos entrevistados que participam esta semana da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Palmas (TO).

A aluna de biologia Aritxawaki Carajá, 20, do Tocantins - Eduardo Knapp/Folhapress
A aluna de biologia Aritxawaki Carajá, 20, do Tocantins – Eduardo Knapp/Folhapress

Durante três dias, o blog ouviu a opinião de índios e índias de aproximadamente 20 etnias do Brasil, entre adolescentes e adultos, além de grupos étnicos de países da América Latina, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia.

Foram lembradas situações como a de estudantes universitárias que foram barradas no restaurante da faculdade por estarem ornamentadas com trajes típicos. “Falaram que era falta de higiene e de ética”, relembrou, com lágrimas escorrendo no rosto, a aluna de biologia Aritxawaki Carajá, 20, da etnia caraja xambioá, do Tocantins.

A manoki Ediana Kamunts, 18, de Mato Grosso, se incomoda com os olhares de desaprovação que recebe sempre que entra em um supermercado, ainda mais se estiver com as vestimentas típicas.

Ela se lembra de uma ocasião em que estava na fila do supermercado na frente de uma mulher branca. “A atendente do caixa me ignorou e passou a branca na frente”, conta.

Tsumeywa Xavante, 21, índio xavante também de Mato Grosso, conta que um tio mais velho, que mal fala português, teve negado o atendimento no hospital próximo da aldeia por não conseguir se expressar.

Brincadeiras de mau gosto na escola também são recorrentes. Muitos disseram que ouviram diversas vezes frases como “índio devia estar no mato, e não aqui na escola”, “índio vive às custas do governo” e “índio é bicho e come piolho”.

NO MUNDO

As histórias se repetem no exterior. Apache do Estado de Nebraska, o norte-americano Antonio Bass, 23, diz incomodar-se com o ar de inferioridade com que seu povo é olhado, por vezes, na escola ou no trabalho. “O pior são as pessoas sempre acharem que não somos tão bons quantos eles.”

Professor da cultura maori, grupo étnico da Nova Zelândia, Wiremu Sarich, 40, tem opinião semelhante. Para ele, o governo deveria parar de achar que sabe o que é o melhor para sua etnia. “Deixe-nos tomar conta de nós mesmos.”

“Lutamos para que nos respeitem, para que entendam nossa forma de pensar, sem estigmatizar”, resume o mexicano Fidel. “Por exemplo, gosto de andar de carro. Porque sou indígena não posso fazê-lo? Somos tão capazes como qualquer outra pessoa”.