Surfista salva-vidas resgata duas crianças de afogamento
POR ESTELITA HASS CARAZZAI, DE CURITIBA
A menina de cinco anos estava desacordada quando o surfista Jorge Porvilho, 33, a agarrou pela cintura e a levantou do fundo do mar.
“Quando eu a puxei, ela já estava molinha”, contou Porvilho. Ela e o irmão de sete anos estavam se afogando numa praia da Ilha do Mel, no litoral do Paraná, no primeiro fim de semana de agosto. O menino gritava ao surfista: “Me tira daqui, eu não quero morrer”.
A praia estava cheia –mas não havia nenhum salva-vidas, como é comum fora da temporada de verão no Paraná. O surfista, porém, conseguiu resgatar e salvar as duas crianças, graças a um treinamento dado pelo Corpo de Bombeiros e por uma ONG local.
“Não há um efetivo de guarda-vidas que possa proteger a população nessa época”, diz a diretora-administrativa da ONG Parceiros do Mar, Silvia Turra Grechinski.
Desde o ano passado, a instituição promove treinamentos com surfistas e moradores locais para orientá-los a salvar banhistas –especialmente fora da temporada. O projeto quer evitar casos de afogamento nesse período e orientar o público sobre técnicas de primeiros socorros.
A luta de Silvia começou na família: ela perdeu a irmã, Renata Turra Grechinski, por afogamento no litoral do Paraná, em fevereiro de 2012.
Renata surfava quando ficou enroscada em um artefato ilegal de pesca. Colegas e amigos viram o acidente e tentaram resgatá-la, mas não conseguiram agir a tempo. “Se houvesse pessoas capacitadas, quem sabe isso não teria ocorrido”, diz Silvia.
Porvilho, surfista desde os dez anos e profissional há sete, é um dos “salva surfers” treinados pelo projeto. Os 68 participantes promoveram oito salvamentos no litoral paranaense até agora.
BRUÇOS
“Na hora em que peguei a menina, eu lembrei das instruções dos bombeiros”, conta Porvilho.
A criança foi colocada de bruços na prancha, de modo a evitar que voltasse a se afogar com a água que expelia. O menino, que tentava puxar a irmã do fundo, se agarrou às costas do surfista. Assim, ele voltou remando à beira da praia.
Quando chegou à areia, a menina já havia acordado. Houve uma salva de palmas.
“Na hora, eu só pensava em salvar as crianças. Só mais tarde, quando entrei embaixo do chuveiro, é que comecei a chorar”, conta Porvilho. “Foi Deus quem me colocou lá.”
Os pais da criança agradeceram o surfista. Em uma mensagem, o chamaram de “anjo” e disseram que irão rezar diariamente por ele.
O projeto Salva Surf continua na próxima temporada. O treinamento, que dura três dias, é gratuito e feito em parceria com o Corpo de Bombeiros.