Imagens de fotógrafo morto com Eduardo Campos são reveladas

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POR PATRÍCIA BRITTO, DO RECIFE

Por mais de dois anos, cinco filmes do fotógrafo pernambucano Alexandre Severo ficaram guardados numa gaveta do laboratório da Universidade Católica de Pernambuco, no Recife. Ninguém sabia qual era o conteúdo das fotos.

Severo era fotógrafo oficial da campanha de Eduardo Campos à Presidência e estava no jatinho que caiu em Santos, em agosto do ano passado, com o candidato e assessores –todos a bordo morreram.

Pernambucano, ele vivia em São Paulo e ficou conhecido pelo ensaio “À Flor da Pele”, em que retratou albinos em famílias negras.

Quando viu a notícia sobre o acidente, a professora e laboratorista Niedja Dias, 46, se lembrou que, dois ou três anos antes, Severo havia pedido para ela revelar algumas fotos. Eram filmes em preto e branco, de médio formato (120 mm), para fotos de 6 cm x 6 cm.07

“Numa dessas vindas aqui, ele me procurou e perguntou se eu podia revelar essas fotos”, relembra a professora. “Eu disse que ia depender da demanda na universidade. Ele só me disse: não tem pressa, a única coisa que eu gostaria era que fossem reveladas por você. E foi ficando aqui, ele não procurou mais.”

Só agora, um ano depois do acidente, as fotos ficaram prontas. “Na época, não tinha condições de procurar a família para tocar no assunto”, diz a coordenadora do curso de fotografia da universidade, Renata Victor. Todos estavam abalados pela trágica morte do fotógrafo de 36 anos.

Dos negativos, surgiram imagens de sertanejos montados a cavalo e da típica paisagem do sertão nordestino: troncos ressequidos sob o céu ensolarado. São fotografias que lembram o ensaio “Vaqueiros”, de 2006, em que Severo retratou a tradicional Missa do Vaqueiro, no município pernambucano de Serrita.

Não há elementos que mostrem quando e onde as fotos foram feitas, mas a mãe de Severo, dona Rita Regina da Silva, 73, diz acreditar que elas sejam mesmo do sertão pernambucano. “A alma dele era sertaneja. Quando ele vinha pra cá e tinha uma folguinha, passava semanas inteiras no sertão”, disse.

No segundo filme, cenas de Brasília: a praça dos Três Poderes, a Esplanada dos Ministérios e o casal de amigos Henrique Lima e Giovanna Marchi, com a filha Alice, em cenários bem conhecidos da capital federal. Dos outros filmes, dois estavam virgens e um não tinha mais qualidade.

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Para Niedja, Severo estava aparentemente testando o formato de 120 mm, que é pouco comercial e exige um tipo de câmera específico. Algumas fotos foram repetidas, outras ficaram com pouca luz.

Depois de finalmente reveladas, as cerca de 20 fotos foram entregues à família e viraram um ensaio na edição de agosto da revista “Unicaphoto”, do curso de fotografia da universidade. Severo estudou na primeira turma do curso, em 2010. Foi lá onde conheceu Niedja, de quem foi aluno e amigo. “Ele amava fotografia analógica, vivia lá no laboratório.”