Manifestações pró-Lava Jato se espalham por Curitiba
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
“Não vamos deixar a Lava Jato sair do Paraná”, dizia pelo megafone o representante comercial Ricardo Izidorio, 50, numa esquina do centro de Curitiba.
Ele liderava um grupo de pouco mais de dez pessoas (formado por empresários, donas de casa e estudantes) que, com um ânimo quase juvenil, distribuía adesivos naquela quinta-feira de julho com o bordão: “Lava Jato: #EuAcredito”.
Os manifestantes integram o movimento Acorda Brasil, um das dezenas que surgiu nos últimos meses pela insatisfação com o governo federal –e que, no Paraná, decidiu centrar suas forças no apoio à Operação Lava Jato.
“Nós queremos mobilizar as pessoas para dar apoio à operação e colocar ordem no Brasil”, diz a advogada e jornalista Rafaela Pilagallo, 38, também integrante do movimento. “Curitiba hoje é o palco.”
EPICENTRO
A capital paranaense é o epicentro das investigações que apuram o pagamento de propina em órgãos públicos federais, e que já levaram quase 50 pessoas à prisão. Dos bilhões que foram desviados, segundo o Ministério Público Federal, R$ 870 milhões foram devolvidos aos cofres públicos.
Durante a adesivagem no centro da cidade (foram mil adesivos distribuídos nas últimas semanas), Izidorio lembrava: “Lava Jato, uma exclusividade de Curitiba”. O grupo defende que as investigações prossigam na cidade, contrariando os suspeitos que defendem a incompetência da Justiça local para julgar o caso.
Um motorista respondeu: “Curitibano não é omisso. Vamos que vamos”.
Na Polícia Federal, sede das investigações, até as árvores na rua foram vestidas com laços verde e amarelo, em sinal de apoio à operação –de autoria do movimento Laços de Apoio ao Brasil. Faixas com as inscrições “Polícia Federal, orgulho do Brasil” são pregadas eventualmente nos gradis do prédio.
Quando um novo e graúdo investigado chega à carceragem da PF, manifestantes marcam presença com cartazes e megafones –a exemplo do que ocorreu nesta terça (4) com a chegada do ex-ministro José Dirceu, suspeito de ter recebido dinheiro desviado da Petrobras. Cerca de 50 pessoas estavam no local. Até foguetes foram soltos.
“Viva o nosso juiz Sergio Moro”, comemorava um deles no megafone, durante a chegada dos investigados da última fase da Lava Jato.
Responsável pelo julgamento dos processos do caso, Moro é o ícone maior do grupo. “O nosso juiz está brigando sozinho contra o poderio dos empresários”, discursava Izidorio, durante a adesivagem –na época, os embates do magistrado com a defesa do empresário Marcelo Odebrecht estavam no auge.
Na semana passada, quando Moro deu uma palestra para advogados em Curitiba, o grupo se manifestou na entrada do auditório. Distribuíram adesivos e amarraram laços verde e amarelo nas árvores próximas.
ESPETO DE PAU
O Acorda Brasil paranaense diz não ter nenhum vínculo político ou partidário, e afirma se financiar por conta própria. “Somos todos pessoas físicas engajadas, gente da sociedade”, diz Izidorio.
Cerca de 50 pessoas participam ativamente do grupo, e outras 280 acompanham as atividades pelas redes sociais.
Nacionalmente, o movimento, que diz ser liberal e defende a diminuição do poder do Estado, já foi recebido por líderes da oposição ao governo de Dilma Rousseff (PT), para tratar de reforma política –como os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA), Índio da Costa (PSD-RJ) e Carlos Sampaio (PSDB-SP).
No Paraná, os manifestantes preparam panelaços contra a propaganda partidária do PT, nesta quinta, e estarão nas manifestações contra o governo do próximo dia 16, agendadas em todo o país.
Nenhum ato, porém, foi programado contra os recentes escândalos de corrupção no governo do Paraná, comandado por Beto Richa (PSDB). Em março, uma operação desbaratou um esquema de corrupção milionário na Receita Estadual, em que auditores cobravam propina em troca da anulação de débitos fiscais.
Há suspeitas de que parte do dinheiro tenha sido desviado para a campanha de reeleição do tucano –ele nega.
Os membros do Acorda Brasil dizem que “não há provas” contra Richa, e que não é esse o foco do movimento por enquanto.
“Isso vai ser tratado a posteriori”, diz Izidorio. “Não vamos nos desviar do fato de que Curitiba é uma referência nacional atualmente.”