Torcedores do Paraná se unem para liberar a cerveja em estádios
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
Pelo menos uma causa tem unido torcedores de times rivais no Paraná: a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios.
Com o bordão “Libera a Cerveja”, um grupo de torcedores de Atlético-PR, Coritiba e Paraná começou a estender faixas nas arquibancadas, durante as partidas, pela causa.
No início do mês, eles criaram uma página no Facebook para angariar apoiadores. Já conseguiram 4.000 curtidas. E agora torcem pela aprovação de um projeto de lei, na Câmara de Curitiba, para voltarem a desfrutar do hábito.
“A cervejinha e o futebol são uma prática costumeira do brasileiro. É cultural. Mas claro, tudo dentro do bom senso”, diz o advogado Henrique Cardoso, 45, torcedor do Atlético-PR e um dos idealizadores do movimento.
Ele e os outros integrantes do grupo dizem que a ação foi espontânea, e negam haver um lobby ou pressão de indústrias de cerveja por trás do movimento.
“Não temos ligação com nenhum grupo econômico nem político”, diz o administrador de empresas Eduardo Almeida, 33. “Somos todos independentes”.
ARGUMENTOS
Os torcedores sustentam que a proibição da cerveja nos estádios não ajudou a diminuir a violência em campo –pelo contrário. Desde 2008, dizem eles, quando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) editou uma resolução que proibiu a venda e o consumo de bebidas alcoólicas durante as partidas, os confrontos aumentaram.
“A violência pulverizou. Agora, o cara sabe que não vai ter cerveja e se embriaga antes, no bar, no portão do estádio. A situação fica muito pior”, argumenta Cardoso.
O cenário pós-Copa também contribuiu para impulsionar o movimento.
“É uma proibição hipócrita. Na Copa podia, porque a Fifa organizava e havia interesses comerciais”, diz o administrador de empresas Eduardo Almeida, 33, também torcedor do Atlético-PR.
“Aí entra a questão constitucional: o torcedor de Copa pode beber no estádio, o torcedor do Londrina [time da cidade homônima, do norte do Paraná], não. É uma segregação financeira”, complementa Cardoso.
O Estatuto do Torcedor estabelece que não se pode “portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”.
Para muitos, isso é uma proibição à cerveja. Para esses torcedores, não. “Juntaram a resolução da CBF com o Estatuto do Torcedor e chegaram num entendimento torto”, diz Cardoso.
CENÁRIO
Atualmente, três Estados do Brasil permitem, por lei, o consumo e venda de bebidas alcoólicas nos jogos de futebol: Bahia, Rio Grande do Norte e Espírito Santo. Nesta semana, deputados de Minas Gerais também aprovaram a permissão –falta a sanção do governador.
Nesses Estados, a cerveja pode ser vendida antes, no intervalo e depois da partida, apenas em copos ou garrafas de plástico. Em alguns casos, há limitações quanto ao teor alcoólico.
Em Curitiba, o projeto de lei que está em trâmite na Câmara, de autoria do vereador Pier Petruzziello (PTB), também prevê a obrigatoriedade de “medidas educativas mostrando a nocividade do consumo exagerado”, como cartazes, folders e vídeos a serem exibidos nos telões.
A proposta foi aprovada em todas as comissões e está pronta para ir à votação. Ela foi apresentada no início do ano –antes, portanto, do surgimento do “Libera a Cerveja”, que afirma não ter qualquer vínculo com o vereador.
Os três grandes times do Paraná também se mostram simpáticos à ideia. No início do ano, cogitaram entrar na Justiça, juntos, para pedir a liberação. Recuaram, mas autorizaram o uso de seus escudos pelo “Libera a Cerveja”.