Sem opção, famílias arriscam a vida em casas condenadas

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POR JOÃO PEDRO PITOMBO, DE SALVADOR

“Estava em casa, já dormindo, quando ouvi um estrondo forte. Olhei pela janela e vi muita fumaça. Parecia um pesadelo”, diz a ambulante Carla Santos Teles, de 34 anos.

Três casas adiante, na comunidade do Barro Branco, periferia de Salvador, imóveis de vizinhos foram soterrados pela terra que deslizou da encosta, matando 15 pessoas há duas semanas.

Carla passou a conviver com o perigo por falta de opção: ocupou uma casa abandonada já condenada pela Defesa Civil porque não tinha como pagar aluguel.

Deslizamento de terra no bairro Baixa do Fiscal deixa quatro mortos em Salvador - Romildo de Jesus/Futura Press/Folhapress
Deslizamento de terra na Baixa do Fiscal deixa quatro mortos em Salvador – Romildo de Jesus/Futura Press/Folhapress – 10.mai.2015

À espera de obras de contenção de encostas ou por uma casa do Minha Casa, Minha Vida em área plana da cidade, milhares de famílias vivem em situação semelhante na capital baiana.

Enquanto aguardam a ação do poder público e vivem de renda incerta, vão e voltam para casas em áreas consideradas críticas.

Morador de uma encosta no bairro da Cidade Nova, Renílson Almeida, 41, teve sua casa condenada em 2013 após um deslizamento de terra.

Seis meses depois, após receber a última parcela do auxílio aluguel concedido pela prefeitura, retornou para a mesma casa com a mulher e quatro filhos.

No início deste mês, teve de sair novamente após um deslizamento atingir a casa de vizinhos. Desde então, vive em um abrigo improvisado pela prefeitura em um hotel.

“O pior é que, quando as chuvas passarem, ninguém vai lembrar”, afirma Almeida. Resignado, admite que poderá voltar para casa mais uma vez dentro de um ano, quando terminar o novo benéfico temporário para custear o aluguel.