‘Foi acaso’, diz morador de única casa da rua poupada por tornado em SC
POR FELIPE BÄCHTOLD, EM XANXERÊ (SC)
De um lado da rua, restos de construções sendo demolidas. Do outro, moradores começando a retomar suas rotinas. Em uma rua de Xanxerê (SC), poucos metros fizeram grande diferença na passagem do tornado que atingiu a cidade há uma semana e matou duas pessoas.
Metade da via foi praticamente varrida pela força dos ventos e está quase vazia. De dez casas, apenas uma permanece em pé, com os moradores. Na outra metade, apesar de muitos prejuízos, danos bem menos intensos, como destelhamentos, já estão sendo remediados. De 13 moradias, duas tiveram perda total.
O aposentado Herculino Soligo, 73, morador da única casa que sobreviveu ao tornado, já providenciou o conserto do telhado do imóvel e diz que é possível “ficar feliz” ao comparar sua situação com a de vizinhos.
“Casa bem mais firme que a nossa foi toda destruída. Não foi por falha [de construção]. Foi um acaso”, diz.
Ele aponta outro fator de sorte: ele e a mulher não estavam na casa no momento em que os fortes ventos arrasaram o bairro no último dia 20. Os dois haviam saído para comprar remédios em outra parte da cidade.
Já na última sexta-feira, os filhos e amigos terminaram de restaurar a cobertura da residência dele. Vidros de janelas quebrados permanecem ainda como marcas da tormenta na fachada. Mas um perito já avisou a família de que a estrutura está em boas condições. A casa de uma filha do casal, na mesma rua, foi quase toda destruída.
“O que ajudaram a gente não dá nem para acreditar. Água e comida têm de sobra. Polícia militar também ajudou [no trabalho de recuperação].”
A rua onde o aposentado mora, chamada Aníbal Padilha, foi uma espécie de epicentro da destruição. Mais de uma semana depois, a energia elétrica ainda não foi restabelecida.
Todos os postes e dezenas de árvores foram derrubados. O caminhão de um vizinho foi arrastado. A uma quadra dali, morreu um homem que tentava proteger os filhos.
TURISMO
Entre os moradores, é consenso que só não houve mais mortos porque o fenômeno ocorreu no meio da tarde, quando a maioria das famílias estava em outras partes da cidade trabalhando ou estudando.
Morador do lado menos atingido, o motorista Gerson Varela, 33, diz que os vizinhos do lado destruído da rua foram obrigados a se alojar nas casas de parentes.
“Só sobrou a casa dele [Herculino]. Foi sorte de um e azar de outros. Prejuízo todo mundo teve. Não tem muita explicação. Ali destruiu tudo, foi a casa inteira, e aqui foi só o telhado.”
Varela reclama da quantidade de curiosos, muitos de outras cidades, que vão ao local para observar os estragos.
No ginásio de esportes de Xanxerê, que foi totalmente destruído, é comum pessoas tirarem fotos dos escombros.
“Queria que todo mundo que veio aqui pegasse um carrinho de mão para ajudar. Tudo já estaria limpo”, diz.