Vice da Bahia some após dizer que está ‘cagando e andando’ para a Lava Jato

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JOÃO PEDRO PITOMBO, DE SALVADOR

Em visita à Bahia na largada para o segundo turno das eleições presidenciais, a presidente Dilma Rousseff (PT) disparou: “Quero saudar o novo vice-governador João Leão, o bonitão”. Aplausos e gargalhadas da militância presente no ato.

Cinco meses depois, o vice-governador da Bahia João Leão (PP) –conhecido pela irreverência e por chamar todo interlocutor de bonitão ou bonitona– saiu do centro das atenções do governo.

Desde que foi citado como investigado na operação Lava Jato da Polícia Federal e reagiu afirmando à Folha que estava “cagando e andando” para as denúncias, Leão não participou de nenhum ato público de governo ao lado do governador Rui Costa (PT).

Nas últimas três semanas, o vice baiano participou de 20 audiências internas e de apenas duas agendas externas, ambas sem Rui Costa: fez uma palestra numa universidade e visitou um antigo reduto eleitoral.

O vice João Leão na lavagem do Bonfim - Mateus Pereira-GOVBA/Divulgação
O vice João Leão na lavagem do Bonfim – Mateus Pereira-GOVBA/Divulgação

O “sumiço” contrasta com a até então atuação ativa do vice, que também é secretário de Planejamento da Bahia. Até a divulgação da lista, ele participou de 18 eventos públicos do governo, incluindo inaugurações em pelo menos sete cidades do interior.

Ex-deputado federal por cinco mandatos, ele também vinha atuando como articulador político do governo em Brasília –função que deixou de exercer.

RUGINDO NOS BASTIDORES

A atual discrição do vice-governador, contudo, não significou a redução do seu poder de influência junto ao governo baiano.

Na última semana, mediu forças com outro secretário ao querer trocar toda a diretoria da autarquia responsável pelos distritos industriais da Bahia, substituindo nomes técnicos por apadrinhados políticos.

Empresários baianos criticaram a troca, já que um dos diretores é responsável por gerir ativos de R$ 2 bilhões em terrenos voltados para a instalação de indústrias.

O vice-governador também foi criticado por nomeações de afilhados políticos na SEI –órgão técnico responsável por estudos econômicos e sociais do Estado. Em privado, servidores afirmam que a autarquia tornou-se um “cabide de empregos”.

Oriundo do grupo político do senador Antônio Carlos Magalhães, Leão é conhecido pela forte base política no interior do Estado e pelo jeito bem-humorado e bonachão.

Aliou-se ao PT em 2009, quando assumiu a secretaria de Infraestrutura do governo Jaques Wagner e prometeu implantar o programa “Buraco Zero”, recapeando todas as estradas que cortam o estado.

Em 2011, assumiu a chefia da Casa Civil do então prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, hoje sem partido. Prometeu trazer o “aeromóvel” para capital baiana e implantar o programa “Gato Zero”, de enfrentamento a ligações clandestinas de energia.

Na campanha de 2014, disse que levaria uma linha de metrô para uma cidade do sertão de 80 mil habitantes. Depois de eleito, afirmou ter rejeitado a proposta para ser ministro de Dilma porque sua mulher “não deixou”.

Na Secretaria de Planejamento, duas semanas depois de ser listado entre os investigados, decidiu adiar para o final deste ano a licitação da construção da ponte Salvador-Itaparica, orçado em R$ 7 bilhões.

OUTRO LADO

Procurado pela reportagem para falar sobre adiamento do projeto da ponte, Leão não quis dar entrevistas.

O “sumiço” do vice-governador de eventos oficiais é contemporizado pelos governistas. “Ele está desempenhando suas funções e tem nosso apoio”, disse o secretário de relações institucionais do governo, Josias Gomes.

Em nota, a secretaria de Planejamento justificou o adiamento do projeto –que já consumiu R$ 90 milhões dos cofres estaduais– alegando que a “conjuntura econômica e política do país tem exigido um ajuste nos investimentos públicos”.

Sobre a frase polêmica, ele mesmo pediu desculpas. Seu chefe, por sua vez, o defendeu, mas afirmou que a frase foi inadequada.