Professora travesti é preterida para cargo de reitora

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ESTÊVÃO BERTONI, DE SÃO PAULO

O ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), frustrou na última sexta (13) parte dos alunos de uma universidade pública do Ceará que desejava ver uma travesti se tornar a primeira reitora do país.

Desde dezembro passado, um grupo de estudantes da Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) pedia para que o ministro nomeasse Luma Andrade, professora travesti da instituição, como reitora. O movimento foi batizado de “Luma Lá”.

Luma é conhecida como a primeira travesti do Brasil a fazer um doutorado. Ela é autora de uma tese em educação na UFC (Universidade Federal do Ceará) defendida em 2012, sobre travestis nas escolas.

A professora trans Luma Andrade - Jarbas Oliveira/Folhapress
A professora trans Luma Andrade – Jarbas Oliveira/Folhapress

Para o movimento de estudantes, a escolha teria significado simbólico. “Nós já tivemos muitos nomes de homens importantes na história, de reitores, de presidentes. Essa escolha vai muito além, condiz com a questão da diversidade sexual”, defendeu o estudante Kaio Lemos, 35, que cursa bacharelado em humanidades e integra o centro acadêmico da faculdade.

Na sexta-feira, o nome do novo reitor foi publicado no “Diário Oficial” e não era o de Luma. Cid Gomes escolheu para o cargo Tomaz Aroldo da Mota Santos, 71, professor aposentado da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

A Unilab, criada em 2010 e instalada em maio de 2011 em Redenção (a 66 km de Fortaleza), ainda não possui um regimento que define uma consulta à comunidade acadêmica e a elaboração de uma lista tríplice que seja levada ao ministro na hora da definição de um novo reitor. Por isso, Cid Gomes podia escolher quem desejasse.

Luma diz que o nome anunciado foi uma surpresa. “Nós não o conhecemos, [Tomaz Aroldo da Mota Santos] é uma pessoa nova para a gente. Esperamos que dê tudo certo. Estamos torcendo, acreditando que é possível que ele faça um excelente trabalho e que se engaje no desenvolvimento da universidade. Acho que foi bem aceito, até agora não houve nenhum problema.”

Questionada sobre se ainda nutre o sonho de ser reitora, Luma desconversa e lembra que a iniciativa de ter o nome citado para o cargo partiu dos alunos. Sobre uma possível chance de ser lembrada nas próximas escolhas, ela responde: “A gente não tem como dar conta do futuro”.

NOVO REITOR

Formado em farmácia e doutor em ciências pela UFMG, da qual foi reitor de 1994 a 1998, Tomaz Aroldo da Mota Santos afirma que, por enquanto, não tem como saber como a comunidade acadêmica da Unilab recebeu seu nome, pois ainda não assumiu o cargo.

“Em geral, as comunidades iniciantes aceitam o fato de que é preciso a designação de um reitor temporário, que se constitui aos poucos junto com a comunidade e organize a universidade”, diz.

Para ele, a escolha do ministro está ligada à sua experiência na área da administração universitária. “É uma boa prática escolher alguém que já trabalhou na organização de outras universidades. Os professores contratados em universidades recém-criadas são também professores jovens. Não é comum que, entre eles, existam pessoas com essa experiência”.

Ele diz ter tomado conhecido do movimento “Luma Lá” pelos jornais e afirma acreditar que a Unilab deverá consultar sua comunidade acadêmica sobre os próximos reitores assim que o regimento for defindio. “Quanto ao desejo da comunidade universitária de escolher seu reitor, é absolutamente legítimo. É isso o que todas as universidades fazem e não será diferente com a Unilab.”

Segundo o Ministério da Educação, a universidade já enviou uma proposta de estatuto. Algumas adequações no texto, porém, foram solicitadas, mas a Unilab ainda não reencaminhou ao governo o documento com as alterações. O MEC afirma que decidirá sobre o estatuto após as mudanças finais terem sido feitas.