Famílias das vítimas de Pedrinhas ainda esperam por indenização
JULIANA COISSI, DE SÃO PAULO
O trio de irmãos Evelyn, 13, Pedro William 11 e Marisa Elisa, 10, não conhecem os cinco netos de Maria do Socorro Lima, 57 –Fábio e Flávia, 12, Rodrigo, 6, Kainã, 3 e Kaique, 1.
Em comum, as nove crianças carregam a dor de não conviver mais com o pai, ambos assassinados em Pedrinhas, complexo prisional do Maranhão. Todas elas também crescem sem terem recebido qualquer amparo legal pela perda.
Os três primeiros são filhos do inspetor penitenciário Isaac William Giusti, 38. Ele foi morto a tiros em setembro de 2014 durante rebelião. Chegou a passar 23 dias hospitalizado, mas morreu.
Já os netos de Maria do Socorro estão órfãos desde outubro de 2013, quando foi assassinado, também a tiros, o preso Fábio Silva Lima, 30, em motim na Casa de Detenção de Pedrinhas.
Isaac é parte das estatísticas das mortes mais recentes: 19 casos em 2014. Já Fábio Lima faz parte do alto número de 60 mortos em Pedrinhas em 2013, muitos em ritos de barbárie, situação que provocou reação até mesmo de órgãos internacionais da defesa dos direitos humanos.
No caso mais recente, de Isaac William Giusti, morto há três meses, os familiares recorreram ao INSS e esperam receber algum tipo de auxílio. As mães das crianças querem também acionar na Justiça, pela perda, a empresa terceirizada que o contratou como monitor e o governo do Estado.
A Defensoria Pública do Estado do Maranhão entrou com ação de indenização contra o governo em defesa dos familiares de 20 dos presos mortos em 2013. Até agora, nenhum deles obteve decisão da Justiça.
“Não recebemos nada. O Estado tem obrigação de nos dar alguma ajuda”, reclama Maria do Socorro, mãe de Fábio Lima. Sem renda fixa, ela e o marido dependem da renda da roça e do pescado que mantém no interior, na cidade de Santa Rita, para ajudar no sustento dos quatro netos.
SAUDADE E LAMENTO
O reflexo da falta do pai é nítido nos netos, lamenta Maria do Socorro. Em janeiro de 2014, a Folha conheceu a avó e o mais velho, Fábio como o pai, durante visita a São Luís.
O menino, que se lembra de ouvir reggae com o pai pelo rádio –São Luís é considerada a capital do ritmo no Brasil–, chora constantemente. “Ele reclama muito, que o pai poderia estar vivo e por que o mataram”, conta Maria do Socorro.
O outro neto, Rodrigo, 6, é pequeno, mas ainda chora ao lembrar que ganharia uma bola do pai no Dia da Criança de 2013, durante a saída temporária dos presos. Fábio morreu três dias antes.
A dor dos filhos do inspetor Isaac Giusti é mais recente, de três meses, mas não menos sofrida. Com Evelyn, a mais velha, o contato era diário. Levava todos os dias a menina para a escola antes de ir trabalhar no segundo emprego, como segurança de uma academia de ginástica.
“Os outros filhos são mais quietos, às vezes falam dele. A Evelyn que é mais explosiva, fala que tem vontade de matar quem fez isso com o pai dela”, conta tia das crianças, Katiene Giusti dos Santos, 37.
Irmã de Isaac e maior confidente, Katiene perdeu 30 kg desde a morte do inspetor e buscou ajuda de psicólogo. Ela diz que ninguém do governo ofereceu tratamento psicológico para as crianças ou o pai. “Meu pai precisa ainda mais que eu”, preocupa-se.
Adhemar Giusti, 67, diz não ter ainda digerido a perda do filho. Há dias em que se perde a escrever folhas e folhas sobre o filho, e para ao sentir o aperto do peito. Na entrada da casa, quer erguer um busto com o rosto de Isaac. “Para que ninguém se esqueça dele”, justifica.
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