Conheça o vilarejo gaúcho onde se fala o talian, dialeto variante do italiano

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FELIPE BÄCHTOLD, EM SERAFINA CORRÊA (RS)

Em um vilarejo cercado de plantações de soja e milho no interior do Rio Grande do Sul, a língua portuguesa é chamada de “brasileiro” e não é a mais falada pelos moradores. Em festas, no comércio e nas casas das famílias, o idioma número um é o talian, uma espécie de variação do italiano, ameaçada de extinção.

Chama-se Silva Jardim o vilarejo, que fica a 20 km do centro de Serafina Corrêa, município de 16 mil habitantes na serra gaúcha.

Ao contrário do centro do município, onde já não é comum ver os moradores falando a língua criada pelos imigrantes, no distrito rural o dialeto está longe de cair no esquecimento. Os moradores contam que até na única escola do vilarejo as crianças se expressam e brincam em talian.

Silva Jardim, que tem cerca de 300 habitantes, faz parte de uma região do Rio Grande do Sul onde os descendentes de italianos criaram o talian. Como a Folha mostrou na edição deste domingo (4), moradores do Estado tentam resgatar o dialeto.

Frequentemente os moradores conversam misturando expressões do dialeto e outras em português.

A moradora Zolair Buffon, 55, diz que no escritório da empresa agropecuária onde trabalha os clientes se “sentem mais à vontade” falando no dialeto e o português acaba sendo pouco usado no dia a dia.

“Falando com eles assim, facilita. É uma coisa daqui, o que predomina é o dialeto. As pessoas sabem falar o português, mas a gente já foi tão habituado que no primeiro momento já parte para o talian.”

O professor Aladir Antônio Ferro, 50, conta que a mãe dele apenas “arranha” português e afirma que fez questão de ensinar o idioma dos imigrantes para as filhas. “Graças ao talian, a gente entende o italiano gramatical quase todo e facilita muito para saber o espanhol.”

A moradora Cássia Gollo, 24, diz que os mais velhos acabam estimulando a conversa no antigo dialeto dentro de casa. “Gostaria que os meus filhos soubessem que eu falava assim. E que cultivassem [a tradição].”

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