João Pessoa ou Parahyba? Coletivo quer mudar nome da capital da PB

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JOÃO PEDRO PITOMBO, ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA

“João Pessoa nunca foi um herói. A verdade é que ele foi um grande filho da mãe”, diz o vereador Flávio Eduardo Ribeiro, conhecido como Mestre Fuba.

Agitador cultural e presidente do maior bloco carnavalesco da capital paraibana, o Muriçocas do Miramar, Fuba é uma das principais lideranças de um movimento que vem ganhando força na Paraíba.

Criado há cerca de cinco anos, o “Movimento Paraíba, capital Parahyba” luta para mudar o nome da capital, retirando o nome do político João Pessoa. É formado por cerca de 200 pessoas entre artistas e profissionais liberais.

Com 780 mil habitantes, a cidade é a única capital de Estado brasileira batizada com o nome de uma pessoa.

Ganhou este nome em setembro de 1930 em homenagem ao então presidente da província e candidato a vice-presidente da República na chapa de Getúlio Vargas. Até então, a cidade chamava-se Parahyba do Norte.

A mudança do nome aconteceu em meio a um clima de comoção após o assassinato de João Pessoa, em julho de 1930, no Recife.

A morte é apontada por historiadores como o estopim da Revolução de 1930, que derrubou o então presidente Washington Luís e levou Vargas ao poder.

Músico toca "Bolero", de Ravel, na praia do Jacaré, em João Pessoa - Priscila Pastre-Rossi/Folhapress
Músico toca “Bolero”, de Ravel, na praia do Jacaré, em João Pessoa – Priscila Pastre-Rossi/Folhapress

CONTRADIÇÕES

Para argumentar pela mudança do nome capital, seus defensores evocam a história de João Pessoa e as contradições de seu mandato à frente do governo na Paraíba.

O argumento é que ele foi um político controverso. Implantou uma forte política de taxação do comércio, com barreiras tributárias a cada 20 km de estradas –o que lhe rendeu o apelido de “João Cancela”.

João Pessoa também colecionou inimigos e teria perseguido vários deles, sobretudo entre as famílias tradicionais do sertão paraibano.

A morte dele, inclusive, é apontada como resultado de perseguição ao advogado João Dantas, membro de uma das principais oligarquias locais.

Por ordem de Pessoa, Dantas teve um caso amoroso exposto para toda sociedade. Meses depois, o rival se vingou dando três tiros em João Pessoa numa confeitaria no Recife.

“A morte de João Pessoa não teve nada de crime político, nem mesmo passional. Foi um crime de lavagem de honra”, diz Fuba, que credita ao magnata das comunicações Assis Chateaubriant a criação o mito em torno do então governador paraibano.

BANDEIRA

O grupo “Paraíba, capital Parahyba” também defende a retomada da antiga bandeira da Paraíba. A atual traz o preto do luto pela morte de João Pessoa e o vermelho, da Aliança Liberal, partido do então presidente da província.

Na bandeira, a palavra “Nego” representaria a negação do apoio de Pessoa a Júlio Prestes, candidato a presidente da situação apoiado pelo então presidente Washington Luís.

A versão é contestada pelos “mudancistas”: Pessoa só teria negado apoio a Prestes após ter sido rejeitado para uma composição política com este, de quem tentou ser vice.

CONSTITUIÇÃO

Para encampar a mudança de nome da capital, os militantes evocam a Constituição do Estado da Paraíba.

O artigo 82 prevê a realização de um plebiscito para escolha do nome da capital do Estado. Mas soa como letra morta desde a promulgação da Carta Magna há 25 anos.

Na classe política local, o tema é tratado como um tabu: até hoje nenhum deputado estadual –a quem compete a proposição– apresentou um projeto de lei para a realização do plebiscito.