Represa seca vira caminho para carros em cidade mineira
As marcas de pneus de motos e carros denunciam uma nova “estrada” aberta pela seca no sul de Minas Gerais, não fosse o inusitado. Os sinais estão impressos no chão rachado onde meses antes havia água, muita água.
A represa do Bortolan, um dos principais pontos de lazer na turística Poços de Caldas (MG) e de geração de energia elétrica, está quase esvaziada. A profundidade máxima de 5,5 metros caiu para 3 metros onde ainda se vê o lago, mas há pontos completamente sem água.
Em um dos trechos secos, é possível enxergar, bem ao centro do que era a represa, um fino curso d’água que insiste em correr. Trata-se do ribeirão das Antas, que forma a represa.
Alguns moradores aproveitam os poucos peixes represados no ribeirão para pescar. Desde a seca, porém, eles não deixam mais o carro, como de costume, no barranco às margens da represa. O veículo fica estacionado no meio do lago seco, perto do pescador.
‘CAVALO DE PAU’
Mais do que só um estacionamento informal, funcionários de um clube de campo às margens da represa denunciam que o leito seco se tornou espaço para jovens se exibirem dando “cavalos de pau” em seus carros e motos.
“Outro dia eu tive que ajudar a desencavar uma moto, porque ela ficou presa no chão”, disse o funcionário. É que, apesar de seco, o chão rachado está fofo, como argila, e há pontos em que os pés se afundam.
Tavares conta ainda que, nos finais de semana, é possível ver cinco ou seis carros e 15 motos, com aproximadamente 20 jovens, de ambos os sexos, para assistir aos “pilotos”.
Procuradas, a Polícia Militar de Poços de Caldas e a DMED, empresa de geração de energia que controla a represa, informaram não ter conhecimento de que veículos fazem “cavalos de pau” no leito seco do lago.
Desde agosto, o turismo passa longe, mesmo onde ainda resta água. Em outubro, os pedalinhos foram retirados do lago. Prejuízo para o Capiau, um dos principais bares à margem da represa do Bortolan.
No último verão, a média era de 20 passeios por dia nos pedalinhos do bar, ao custo de R$ 20 cada um. “Era uma renda boa para nós”, lamenta Douglas Costa, 24, cuja família é dona do Capiau. O movimento no local, desde então, caiu para a metade.
No clube náutico vizinho à represa, o Praia do Sol, a prática de remo também precisou ser interrompida por força da estiagem.
O funcionário do clube Jair Costa de Souza, 50, exemplificou os efeitos da seca ao mostrar à reportagem uma passarela que avança dentro da represa.
Há dois meses, a ponte original precisou ser ampliada por cerca de dez metros com ripas de madeira. É que, com o recuo da água, os barcos de remo não alcançavam mais o lago apenas com a antiga passarela.
Souza olha com tristeza para o pôr do sol na quase vazia represa do Bortolan. “A gente que todo dia está aqui, vê essa cena, da represa indo embora… É uma barbaridade o que acontece com a natureza.”