Seu Vair, o dono da cachoeira “de todos” no sul de Minas

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JULIANA COISSI, EM SENADOR JOSÉ BENTO (MG)

Acordar com o som da cachoeira e do canto dos pássaros no meio da floresta é privilégio de poucos, sabe bem seu Vair. Nos últimos 38 anos, essa tem sido a rotina diária do agricultor Ivair Sabino do Couto, 72.

Ele mora na zona rural de Senador José Bento, cidade montanhosa do sul de Minas Gerais. Vair é dono de um sítio que conta com a sorte de abrigar a maior cachoeira da cidade, a Boca da Onça, de aproximadamente 30 metros de altura.

Em tempos de chuva farta, é possível ouvir o barulho da cascata já da rodovia estadual, antes de chegar ao município. Mas nos últimos dois meses, a seca fez minguar a vazão das diversas cachoeiras na região.

Na Boca da Onça, o barulho da queda d’água está mais fraco do que o de costume, mas ainda presenteia o despertar do agricultor.

Vair, porém, nunca quis desfrutar do privilégio sozinho. Todos os fins de semana e feriados, o agricultor abre o portão de seu sítio para os visitantes, vindos de Senador José Bento e de cidades vizinhas como Pouso Alegre (MG). A entrada é de graça. “Ah, não cobro nada, não. É um divertimento para a gente.”

Da entrada de seu sítio, no alto da serra, o agricultor fez questão de convidar a reportagem para descer até os pés da cachoeira, em visita há duas semanas.

Ele demora-se a olhar para a cascata mirrada, que deixa revelar o paredão de pedra. “Vocês precisavam ver, é um mundão de água caindo assim em cima da gente”, tenta explicar a beleza que a seca levou. Desde os tempos de criança, Vair não se lembra de uma estiagem tão severa que tenha modificado a cachoeira como a deste ano.

Para receber melhor os turistas, ele até construiu um quiosque aos pés da cachoeira. Pedras com cinzas, no chão, denunciam um churrasco de dias anteriores. “O pessoal queima uma carne aqui e até convida a gente para ficar junto.”

Não só a cachoeira, Vair também divide a água de suas nascentes com os vizinhos –há minas d’águas praticamente extintas em algumas propriedades rurais. Um dos vizinhos, por exemplo, usa as nascentes no sítio de Vair para encher latões de água que servirão ao gado.

O agricultor não vê o gesto como uma generosidade sua. “Água é uma coisa que Deus deu. Não pode ficar de miséria”.

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