‘Isso non ecziste’: seguidores de padre Quevedo dão aulas de parapsicologia
PAULA SPERB, DE SÃO PAULO
“Grupinho dos estraga prazeres”. É assim que Marcia Regina Cobêro, 59, define os integrantes do Instituto Padre Quevedo de Parapsicologia (IPQ) dirigido por ela, em São Paulo. É que os profissionais escolhidos pelo jesuíta espanhol Oscar Quevedo, 85, não aceitam explicações fáceis (forças do além) para fenômenos intrigantes (desencadeados por ação humana).
Padre Quevedo chegou ao Brasil em 1954 e ficou conhecido pelo bordão “Isso non ecziste”, evocado sempre que desmistifica histórias de assombrações em palestras.
Segundo Cobêro, não é raro o IPQ atender casos de objetos que se movem ou incendeiam. Por trás dos fenômenos, diz, há uma mente perturbada, capaz de mover objetos. Mas não espíritos. “Objetos não se movem sem alguém para enxergar”, diz ela, que é teóloga e filósofa.
As aulas, de pós-graduação, oferecem explicações racionais e lógicas para fenômenos como levitação, telepatia e exorcismo. O curso está com inscrições abertas na Unisal, em São Paulo, e no colégio católico Regina Mundi, em Maringá (PR).
O corpo docente é formado por doutores e mestres de diferentes áreas, autodenominados “cientistas católicos”. Entre eles, há três padres, mas não Quevedo.
Desde 2012 ele vive em um lar para padres idosos em Belo Horizonte e escreveu três livros –no total são 17 obras. O recente “Corpos Incorruptos” trata de corpos que não se decompõem após a morte. A Igreja Católica tem mais de 1.200 registros do fenômeno.
O IPQ também atende pessoas que se dizem atormentadas por espíritos, feitiços e até possuídas pelo demônio.
“A Igreja é clara: antes do exorcismo tem que descartar todas as possibilidades. É aqui que se faz isso. Sempre resolvemos”, diz a diretora.
O instituto não tem fins lucrativos, atende atualmente 69 pessoas e, segundo a diretora, está no vermelho desde 2012, quando foi fundado.
Nos atendimentos, psicólogos orientam sobre os problemas que angustiam as pessoas com sintomas e padres derrubam “explicações místicas” para problemas como infelicidade no casamento.
INÍCIO DAS PESQUISAS
Padre Quevedo fundou o Centro Latino Americano de Parapsicologia (Clap) em 1970. Por mais de três décadas, pesquisou fenômenos que não são estudados pela ciência nem pela psicologia, mas afetam a vida das pessoas. Em 2012, ao ser aposentar, a equipe criou o IPQ com a bênção do padre.
Em breve, os 8.600 livros do instituto estarão disponíveis on-line, incluindo raridades como a obra completa do papa Bento 14 em latim e mais de 7.000 fichas datilografas por Quevedo e equipe, organizadas por temas (feitiçaria, levitação, demônios).
Além disso, há um museu em fase de montagem, com peças recolhidas por Quevedo e outras doadas. Uma das que mais chamam atenção é um navio cheio de “exus”.
“As freiras de um convento chamaram a equipe do padre apavoradas quando viram o navio. Elas diziam que era um feitiço de uma ex-funcionária, por vingança”, conta a diretora. Quevedo ficou indignado porque as freiras deveriam era ensinar que essas coisas “non eczistem”.