Até acampamento de sem-terra vê disputa entre petistas e tucanos

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ESTELITA HASS CARAZZAI, EM CAMPO GRANDE (MS)

Na estrada que segue ao sul de Campo Grande, em direção à agrícola cidade de Sidrolândia, há fazendas e mais fazendas, além de alguns acampamentos de sem-terra.

De um lado, entre os barracos de lona e madeira, uma bandeira com o número 45 balança pendurada num pedaço de bambu. Do outro, a bandeira vermelha do 13, numa disputa eleitoral que avança até sobre acampados e movimentos de trabalhadores rurais.

Mato Grosso do Sul vive um disputado segundo turno na corrida ao governo, entre Delcídio Amaral (PT) e Reinaldo Azambuja (PSDB). Os dois estão em empate técnico, segundo as últimas pesquisas.

“Aqui nós fechamos com o Reinaldo”, diz o acampado Osvaldo Aoki, 57, sobre a bandeira azul e amarela em frente a um dos acampamentos, a cerca de 30 km de Campo Grande.

O “nós”, nesse caso, são os líderes do movimento, ligado à Fetagri (Federação de Trabalhadores na Agricultura) –que, por sua vez, declarou apoio oficial ao petista Delcídio. Outros dois acampamentos próximos também exibiam a bandeira do PSDB, numa visita feita pela Folha neste sábado (25).

O apoio só veio no segundo turno. Deputados e representantes do tucano foram ao local, conversaram com os líderes e prometeram diálogo em caso de eleição.

“O Reinaldo, se for eleito, disse que quem vai nomear a comissão para negociação [de desapropriações e reforma agrária] são os líderes”, conta Aoki.

Em outros dois acampamentos vizinhos, é o PT de Delcídio quem tem o monopólio das bandeiras, seguindo a orientação da Fetagri.

“Por tudo o que ele já fez pelo nosso Estado e pelas propostas que apresenta para fortalecer a agricultura familiar, não temos dúvida de que ele é a melhor opção”, discursou o presidente da Fetagri, Valdinir Nobre de Oliveira, durante ato de apoio ao petista, ainda no primeiro turno.

COISA DE LÍDER

Mesmo no “acampamento tucano”, o apoio não é unanimidade.

“Quem está apoiando é o líder. Mas nós já temos candidato: é do PT”, diz a acampada Neuza Medeiros, 53, que tem uma bandeira de Delcídio guardada em casa. Segundo ela, “a maioria” ali vota 13.

“Até o primeiro turno, era tudo PT. Acho que tem dinheiro na jogada”, diz.

Neuza não soube explicar como os líderes estariam recebendo (se como contratados na campanha ou não, se com ajuda na gasolina ou dinheiro vivo). O líder do acampamento não estava no local.

Para Aoki, cuja caminhonete está forrada de adesivos de Azambuja e do presidenciável Aécio Neves, o candidato tucano é o único que fala de reforma agrária. “Veja a Dilma. Quantos anos faz que está lá e nunca falou nisso?”

O fato de Azambuja ser fazendeiro (um dos mais ricos candidatos do país, com patrimônio declarado de R$ 37 milhões) não é demérito, para o acampado. Ele opina que o tucano irá negociar melhor com os proprietários e terá mais facilidade de criar nossos assentamentos.

Neuza discorda. “O único governador que deu terra foi o Zeca do PT [1999-2006]. Depois, acabou. Por isso que eu voto no PT.”

Mato Grosso do Sul tem cerca de 22 mil acampados, que aguardam por terras da reforma agrária, de acordo com um levantamento do início deste ano do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

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