Em paz, casal de amigos sai do ‘armário eleitoral’

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DHIEGO MAIA, DE SÃO PAULO

Já faz tempo que o casal de amigos Victor Moraes, 24, e Isadora Cavalcante, 22, saiu do “armário eleitoral”.

Hoje, fazem questão de dizer o que são: ele é tucano. Ela, petista.

Mas não para por aí. Pelas ruas de Salvador, onde moram, costumam andar juntos e atrair olhares pelas camisas que estampam os rostos de seus representantes políticos –rivais nas urnas.

Na de Isadora, o retrato de Dilma Rousseff (PT) em vermelho remonta à época em que a presidente e candidata à reeleição foi presa pela ditadura militar na década de 1970.

Já Victor costuma vestir a peça com a figura de Aécio Neves (PSDB) que dispara uma frase marcante de um discurso do presidente Barack Obama, mas de um jeito bem mineiro: “Uai, We Can [Sim, nós podemos]”.

“A gente discute, discute e discute e logo muda de assunto. A política só é mais uma de nossas diferenças”, diz Moraes.

Antes de o debate eleitoral os colocar em lados opostos da urna, Victor e Isadora já cultivavam uma amizade sólida.

O primeiro encontro ocorreu há quatro anos no curso de direito da FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências), na capital baiana. Nesse meio tempo quase engataram um namoro.

Eles se consideram uma exceção ante ao festival de ódio gratuito que tem sido propagado nas redes sociais entre amigos com posicionamentos contrários.

“As pessoas estão reproduzindo frases sem pensar. Virou uma competição. Cada um quer comparar e mostrar que o candidato x ou y é melhor”, afirma Cavalcante.

“Acho que tudo isso também é um reflexo das manifestações. As pessoas deixaram as ruas e tomaram as redes sociais”, completa.

Na família, ambos também convivem com diferenças partidárias. Na de Victor, basicamente todos são petistas históricos.

Isadora vive situação oposta quando está em casa, na cidade de Vitória da Conquista (a 515 km de Salvador). “A maioria é tucana. Me sinto um peixe fora d’água”, diz.

MOTIVO DO VOTO

“Me simpatizei pelo PSDB quando fui morar sozinho e percebi o aumento dos preços e o meu bolso doer a cada vez que o tempo passava e nada mudava”, afirma Moraes.

Em 2010, Victor diz que votou em Marina Silva e, no segundo turno, absteve-se. Ele critica quem associa a imagem de Aécio à de FHC (1995-2002).

“O cenário é outro. Quando estou votando em Aécio, não estou votando em FHC que também seria outro político se estivesse governando o país hoje.”

“É preciso melhorar o mercado e estabilizar a moeda para contratar mais. Não adianta colocar todo mundo na faculdade se, depois, grande parte dos formados não consegue emprego na área”, completa.

Isadora também mantém um discurso afinado para confirmar sua primeira participação nas urnas neste pleito.

“O nordestino, o brasileiro como um todo deve muito ao PT. Hoje, temos mais estudantes nas federais, a classe mais pobre está ascendendo.”

“Quando ouço que os aeroportos se transformaram em rodoviária fico feliz. É sinal que mais gente humilde está viajando”, diz.

E continua: “O Brasil saiu do Mapa da Fome na gestão petista. Os estudantes conseguem estudar no exterior. Negar tudo isso é muita ignorância.”

As linhas de pensamento defendidas por Victor e Isadora se cruzam pelo menos nos versos que um dia Gonzaguinha entoou: “A gente quer viver pleno direito. A gente quer viver todo respeito. A gente quer viver uma nação”.

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