‘Hospital das locomotivas’ corre o risco de desaparecer

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DHIEGO MAIA, EM RIBEIRÃO VERMELHO (MG)

Um símbolo de um tempo em que a riqueza nacional era transportada sobre trilhos está fadado a desaparecer.

Na pequena Ribeirão Vermelho, no sul de Minas, os olhos do visitante são atraídos por uma enorme estrutura ovalada. Em meio ao pasto ocupado por vacas e cavalos está a rotunda, coração do parque ferroviário da cidade nos idos de 1890.

Em seu apogeu, a rotunda recebia um vaivém de locomotivas defeituosas. Ali, elas eram consertadas e recolocadas nos trilhos.

Entre os ribeirenses, uma lenda ferroviária ainda corre gerações. Dizem que nem o reboco que une um tijolo a outro da estrutura é nacional.

De fato, a rotunda é um misto do melhor da arquitetura europeia que se alastrou pelo Brasil afora naquela época.

O telhado que ainda resiste é de Marselha, na França, enquanto as 30 colunas de ferro fundido que sustentam o forro de treliça são escocesas.

Mesmo em ruínas, a rotunda de Ribeirão Vermelho disputa uma posição de destaque: a de maior estrutura do gênero da América Latina.

Outra rotunda mineira, erguida em Além-Paraíba, também está no páreo pelo título.

Apesar de um passado de imponência, a reportagem encontrou parte da antiga “oficina de luxo” escorada por madeiras para não desabar.

Sem nunca ter sido restaurada e por décadas dilapidada, a construção está prestes a entrar em colapso.

“Fico triste quando ouço que há uma casa, aqui em Ribeirão, com pisos da rotunda. Se esse patrimônio tivesse sido preservado, o município ganharia muito”, diz a servidora Maria Moraes, 23.

O prefeito Célio Carvalho (PDT) afirma que a única intervenção que conseguiu concretizar foi desenterrar o espaço, no centro da rotunda, onde as locomotivas eram consertadas. “Tiramos mais de 200 caminhões de terra só dali”, aponta o prefeito.

A prefeitura mantém dois funcionários no local que fazem pequenos reparos na construção. E só.

“Para recuperar a rotunda e todo o parque ferroviário seria preciso investir pelo menos R$ 7 milhões. Não temos esse recurso”, diz Carvalho.

A arquiteta Luciana Bracarense pesquisa soluções de restauro para a rotunda em um doutorado na Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto). Segundo ela, a ideia é utilizar aço nos processos de restauração do local.

“A rotunda é testemunha da arquitetura do ferro no Brasil. Hoje, tem-se ali apenas uma representação do que a construção foi um dia.”

PATRIMÔNIO DE MINAS

O parque ferroviário de Ribeirão Vermelho, cidade que hoje não passa dos 4.000 habitantes, foi tombado como patrimônio de Minas Gerais em agosto.

Com isso, a prefeitura receberá recursos do ICMS Cultural gerado no Estado para investir em readequações na rotunda e nas demais estruturas do complexo.

Hoje, apenas o prédio da antiga estação de passageiros é utilizado. Lá, funcionam duas secretarias e um ponto para acesso à internet.

Os trilhos que rasgam Ribeirão Vermelho ainda seguem movimentados: hoje, locomotivas da Vale passam carregadas de produtos minerais.

Enquanto o recurso não vem, Carvalho diz que tenta “arrumar a casa” para captar recursos e transformar o parque ferroviário em um polo turístico.

A rotunda, pelo menos, já atrai casais recém-casados que encontram no local um cenário único.

“É linda, rústica, mas não a queremos assim. Espero que seja reformada logo”, afirma Maria Rocha, 37, que vestida de noiva saiu de Lavras (a 10 km dali) para uma sessão de fotos no local.

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