Conheça o artista que esculpe rostos de famosos na cabeça de alfinetes
Os minúsculos alfinetes esculpidos em homenagem a Getúlio Vargas, incluindo o que traz o rosto do presidente, raramente deixam o acervo, em Caxias do Sul (RS).
As obras do artista Bruno Segalla (1922-2001), com apenas um milímetro de diâmetro, foram expostas no mês passado por menos de 24 horas apenas porque a ocasião era especial: a abertura da exposição que marcou os 60 anos do suicídio do presidente, em 24 de agosto de 1954.
No evento realizado no Memorial Legislativo, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde Vargas foi deputado, os alfinetes foram vigiados de perto pela diretora do Instituto Bruno Segalla, Rejane Rosa de Oliveira.
Além do alfinete com o rosto de Vargas, há outro com 119 letras esculpidas: “Salve Getúlio Vargas. A vontade soberana do povo quis que ele voltasse. Com ele estarão todos aqueles que trabalham e esperam por um Brasil maior”.
As imagens e letras, é claro, só podem ser vistas com o auxílio de um microscópio.
A técnica e as ferramentas para executar as obras foram desenvolvidas na década de 1950 por Segalla, que usava lentes de aumento potentes durante o trabalho. Cada alfinete levava meses para ficar pronto.
Segalla foi escultor e medalhista. Começou a trabalhar aos 13 anos em uma metalúrgica de Caxias do Sul, onde exerceu a função de gravador de medalhas.
Sua trajetória foi marcada pela militância. Foi preso três vezes durante a ditadura e teve o mandato de vereador cassado. O motivo da última prisão foi a tentativa de organizar o PCB na cidade.
O artista esculpia por encomenda, mas esses alfinetes foram iniciativa própria, segundo Oliveira.
“A simpatia de Segalla por Getúlio se deve aos direitos trabalhistas sancionados neste governo”, explica Mariana Duarte, historiadora que pesquisa o artista para sua tese de doutorado.
Segundo ela, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) de Vargas permitiu a organização sindical que era valorizada pelo artista, eleito presidente do sindicato dos metalúrgicos da cidade em 1952.
Segalla não era um comunista que “seguia a cartilha”. Em um dos seus ateliês, havia um cartaz de Che Guevara na parede, em meio ao caos de obras e ferramentas, o que não o impedia de reconhecer os direitos trabalhistas conquistados na Era Vargas nem tampouco o afastava da religião.
Segalla também fazia esculturas voltadas a temas religiosos, mas ficou mais conhecido por suas medalhas e bustos.
No currículo do gaúcho, há outras obras em alfinetes, como as efígies de Eva Perón e Giuseppe Garibaldi.
“Ele teria lido que alguns artistas chineses faziam esculturas em cabeça de arroz. Achou aquilo muito curioso e decidiu fazer esculturas em alfinetes, até pela proximidade dele com a metalurgia e com as técnicas de gravação”, explica Oliveira.
O instituto está sendo transferido para o campus 8 da Universidade de Caxias do Sul (UCS), junto com os minúsculos alfinetes e as demais obras do artista.