Após aceno ao setor, Marina faz ‘promessa bomba’ ao agronegócio
EDUARDO SCOLESE, COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Ontem (28), a presidenciável Marina Silva (PSB) fez um aceno para melhorar sua imagem junto ao agronegócio. Visitou uma feira do setor sucroalcooleiro e fez um discurso de apoio aos usineiros.
Hoje (29), porém, ao lançar seu plano de governo, fez uma promessa que, se levada adiante em eventual mandato no Planalto, tem tudo para se transformar numa ampla batalha justamente contra esse mesmo setor.
Está ali, sem destaque, na página 58 de um total de 124, a promessa de atualizar os índices de produtividade usados para a desapropriação de terras para a reforma agrária. Na prática, ao atualizar os índices, o governo passa a exigir um maior aproveitamento das fazendas para que essas não sejam declaradas improdutivas e, seguida, destinadas à reforma agrária.
Trata-se de um tema caríssimo aos fazendeiros e à bancada ruralista no Congresso.
Atualizar os índices, segundo repetem os representantes do setor produtivo, seria uma espécie de abertura da porteira para a desapropriação em massa de áreas para os sem-terra.
A atualização desses índices é uma promessa antiga do PT aos sem-terra, mas jamais cumprida. Sempre que o governo sinalizava algum avanço nesse sentido, logo voltava atrás diante da imediata reação de partidos aliados ligados ao setor, com PMDB e PP, principalmente.
Em sua gestão, o então presidente Lula repetiu a promessa algumas vezes. Fez isso, por exemplo, em 2005, em meio a uma marcha com milhares de sem-terra em Brasília. Em documento do governo, falou em anunciar “nas próximas semanas” novos índices. Nada ocorreu.
Quatro anos depois, também diante de uma mobilização do MST em Brasília, prometeu atualizar em 15 dias os índices agropecuários. Nada, de novo.
Os números atuais usados pelos técnicos do Incra na vistoria de áreas passíveis de desapropriação se baseiam no Censo Agropecuário de 1975.
Agora a campanha de Marina fala o seguinte: “Atualizar os indicadores de produtividade agrícola e acelerar o diagnóstico da função social da propriedade rural”.